Eu cresci comendo peixe. Minha família apreciava uma refeição com peixe ao menos uma vez por semana, truta salmonada ou linguado. Salmão, arenque defumado e peixe branco eram iguarias ocasionais.
No verão, quando eu pegava algumas percas num lago local, minha mãe limpava-as cuidadosamente e as preparava na frigideira.
Meus filhos gostam de peixe, e também de pesca. Eles sempre levavam sanduíches de sardinha para o almoço na escola; eu sabia que não seriam trocados por sanduíches de pasta de amendoim. Quando eles pescavam uma carpa de um rio em Minnesota, eu a recheava e fazia no forno, para o delírio dos convidados para o jantar. Também fico muito feliz por todos os meus quatro netos gostarem de peixe.
Sendo assim, fico perplexa pelo fato de o peixe continuar tão mal amado em comparação a outras fontes de proteína animal: carne vermelha e frango.
Conheço todas as desculpas: “Não sei o que comprar”. “Não sei como preparar”. “Deixa muito cheiro na cozinha”. “Uma vez comi um peixe estragado e nunca mais toquei nisso”.
Existem maneiras de contornar essas objeções (há duas décadas, produzi um livro de receitas de frutos do mar com Richard Flaste para facilitar isso). E sempre ajuda saber como e por que escolher certos peixes e moluscos.
Bom para a saúde
Comecemos com a saúde. Peixe faz bem, melhor do que a carne vermelha (prejudicial ao coração) e até mesmo do que as aves magras. Peixes oleosos como salmão, cavala, anchova, arenque e sardinha são ricos em ácidos graxos ômega-3. Estes são ácidos poliinsaturados que podem proteger contra ataques cardíacos e derrames, ajudar a controlar os coágulos sanguíneos e criar membranas de células no cérebro. Eles também são importantes para o desenvolvimento neurológico e visual das crianças.
O ômega-3 também pode ajudar a aliviar uma série de problemas, como câncer, depressão, inflamações no intestino e doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatoide.
As melhores evidências dos benefícios vêm de estudos com pessoas que comem peixe há muito tempo, em vez de tomar suplementos de ômega-3.
Há quase três décadas, pesquisadores holandeses publicaram um estudo revolucionários na revista “The New England Journal of Medicine”. Intrigada com a taxa de mortalidade extremamente baixa por doenças de coração entre os esquimós da Groenlândia, a equipe acompanhou 872 homens de 40 a 59 anos durante 20 anos, e descobriu que aqueles que comiam pelo menos duas refeições semanais de peixe apresentavam uma taxa de mortalidade por ataques cardíacos 50 por cento menor do que os que não comiam peixe.
Outros estudos ligaram o consumo de peixe a um risco reduzido de derrames, embora pesquisas posteriores tenham concluído que o benefício de saúde estava limitado a pessoas com alto risco de doenças cardiovasculares.
Dado que doenças cardíacas e derrames são as principais causas de morte entre americanos, seria de se imaginar que essa pesquisa aumentaria drasticamente o consumo de peixe nos Estados Unidos. Infelizmente, pouca coisa mudou.
— Os asiáticos comem cerca de 15 quilos de peixe por ano — me disse Paul Greenberg, autor de dois livros populares sobre frutos do mar.
Isso pode ajudar a explicar a expectativa de vida maior dos japoneses.
Dicas para comprar e preparar peixes
Se o seu problema é escolher quais peixes comprar, procure uma loja especializada ou uma peixaria de supermercado que tenha um funcionário experiente. Peça recomendações e ideias de preparo. Muitas lojas disponibilizam receitas. Um guia útil para as alternativas mais ecológicas pode ser encontrado no site www.seafoodwatch.org . Veja algumas dicas:
— Certifique-se de comprar peixes frescos, sem um cheiro forte de peixe.
— Se o peixe estiver embalado em plástico, ele ficará malcheiroso a menos que seja congelado logo após a compra. Eu sempre enxáguo e seco os peixes antes de cozinhá-los.
— Peixes de viveiros nem sempre são o desastre ecológico ou um risco à saúde como alguns afirmam. O bagre americano, por exemplo, é “nosso peixe de viveiro de maior sucesso, e o processo cria zonas úmidas muito usadas por pássaros”, explicou Greenberg. O salmão de viveiro hoje vem principalmente do Chile, onde não afeta as populações selvagens.
— A maioria dos mexilhões vem de viveiros, e ajudam a limpar as águas onde vivem. Eles têm baixo teor de gordura e calorias, são boas fontes de ômega-3 e trazem muito pouco colesterol. Por outro lado, camarão (grande parte de viveiros, muitas vezes em condições questionáveis), lula e lagosta são ricos em colesterol.
— Aqueles preocupados com o preparo do peixe e seu efeito “aromático” têm duas opções: grelhá-los ao ar livre, ou optar por peixe quando se come fora.
— Um erro frequente é cozinhar demais o peixe. Ele deve parecer um pouco cru quando retirado do forno ou do fogão, sugeriu Greenberg. No momento em que chegar à mesa, ele estará adequadamente cozido.
— Algumas pessoas precisam ser cautelosos com frutos do mar. Aqueles com alergia a qualquer peixe ou marisco, o que pode apresentar um risco de vida, devem evitá-los e aprender sobre outras variedades com reações cruzadas.
— Mulheres grávidas são aconselhadas a limitar seu consumo de peixes como atum e peixe-espada, com altos níveis de mercúrio, que podem afetar o desenvolvimento cerebral do feto. Mas as antigas restrições de gravidez sobre o peixe cru (sushi e sashimi) foram removidas, desde que o peixe tenha sido congelado entre 18 e 20 graus negativos, por pelo menos três dias, para matar qualquer parasita.
Fonte: http://zh.clicrbs.com.br