Ainda não se sabe exatamente a origem de um dos recentes híbridos lançados na piscicultura nacional nos últimos anos. Há especulações de que o novo peixe, batizado de pintado-real, seja resultado do cruzamento entre o jundiá e o pintado, que, por sua vez, é oriundo da união do cachara-amazônico com o pintado-comum. Enquanto o segredo guardado a sete chaves não é revelado, os produtores de alevinos do pintado-real aproveitam os lucros da novidade, que também podem se estender aos interessados em iniciar a criação.
De pele clara e brilhante, o pintado-real possui espessos filés de lombos com baixos teores de gordura, item que se destaca, já que as pessoas estão cada vez mais atentas ao hábito de ingerir uma alimentação saudável. A carne de textura firme ainda é branca e sem espinhas, características que o brasileiro já aprovou no consumo de outros peixes com iguais qualidades. Considerada nobre, a proteína alcança valor alto no mercado, gerando aumento no orçamento mensal do criador, que também se beneficia do bom rendimento da carcaça e do manejo fácil da espécie.
Dócil, resistente e precoce, o pintado-real tem rápido crescimento e ganho de peso, o que viabiliza a fase de engorda até para quem tem pouca experiência na criação de peixes. Como a cada 1,8 quilo de ração consumida o pintado-real ganha 1 quilo, chega-se a atingir 1,8 quilo em sete meses de cultivo, permitindo à atividade a realização de uma safra e meia por ano.
Se bem organizada e livre de fatores que possam prejudicar o manejo, uma criação simples pode alcançar lucratividade de 33%, com produção inicial de 4.000 quilos de pintado-real por hectare de espelho d’água, com vazão apenas para repor as perdas com evaporação e infiltração. Para tanto, é necessário contar com um plantel de 2 mil peixes com 2 quilos cada na despesca, volume que pode ser calculado a partir da aquisição de 2.200 alevinos, prevendo-se uma mortalidade de 200 unidades durante o cultivo.
Ao preço de R$ 4 por alevino e mais R$ 10 mil para a compra de ração para engorda, somados a pagamentos com energia elétrica, insumos, impostos e depreciação, o custo total da atividade pode variar de R$ 25 mil a R$ 30 mil. Com a comercialização do quilo do pintado-real a R$ 10, em média, o faturamento bruto obtido é de R$ 40 mil.
Graças ao desenvolvimento acelerado e à carne saborosa do novo peixe, conta-se que seu comércio já vem substituindo as vendas de pintado, cachara e surubins em geral. Além de ter frigoríficos, centrais de abastecimento, peixarias, feiras, supermercados e restaurantes como canais de distribuição, estabelecimentos de pesque e pague podem ser compradores de pintado-real para uso em pesca esportiva.
MÃOS À OBRA
>>>Início Para minimizar os riscos do começo da atividade, recomenda-se buscar orientações com um profissional experiente em piscicultura. Ele deve avaliar a viabilidade técnica e econômica do empreendimento, ajudando a definir o melhor sistema e tecnologia a ser adotados, entre outras estratégias. Como a reprodução do pintado-real mantém-se sob o domínio de poucos e, geralmente, é uma fase que inspira conhecimento para ocorrer em cativeiro, o indicado é iniciar a criação com exemplares adquiridos de produtores que dominam as técnicas apropriadas para a procriação. Compre alevinos de pintado-real com 6 centímetros ou mais e adaptados à ingestão de ração balanceada, prontos então para a fase de engorda.
>>>Ambiente O pintado-real é uma espécie adaptada a temperaturas mais quentes, apesar de apresentar desenvolvimento satisfatório no inverno. Tanque, lago ou algum tipo de espelho d’água na propriedade, com um adequado número de peixes por área (densidade), exigindo menor competição por alimento e espaço, permite que os peixes tenham um desenvolvimento uniforme. Por isso, é bom realizar a criação dividida em fases.
>>>Tanques Redes ou gaiolas são opções para criar o pintado-real em rios, assim como a construção de modelos escavados em terra, que podem ser de alvenaria, fibra ou chapa galvanizada. Todos, no entanto, devem ser protegidos de predadores, como a instalação de rede contra pássaros. Construa um canal de bloco de concreto com um tubo de PVC ou faça uma vala simples, para direcionar a água até o tanque, que deve contar no fundo com um monge para regular sua vazão.
>>>Cuidados Na engorda, a garantia da sobrevivência do pintado-real vai depender da organização do manejo. A divisão da etapa em duas ou três fases é uma alternativa com bons resultados quando o objetivo é evitar a presença de peixes dominantes no lote e a ocorrência de canibalismo entre os exemplares.
>>>Alimentação O pintado-real come bem durante o dia e tem ótima resposta metabólica para ração comercial para peixe carnívoro, apresentando resultados superiores de conversão alimentar. O produto, na forma de peletes extrusados e em diversos tamanhos para cada fase de desenvolvimento, deve possuir alto valor nutricional, inclusive elevados teores de proteína. Flutuante, a ração servida aos poucos permite monitorar a quantidade necessária para alimentar a criação. Diferentemente do pintado-comum, que dá bote, o pintado-real come na superfície.
>>>Transporte Uma das vantagens do pintado-real é a resistência que apresenta no transporte da produção para os pontos de venda, mantendo regularidade no rendimento de seu peso. O peixe também não apresenta nível significativo de estresse na etapa de estocagem.
RAIO X
Criação mínima: 2.200 alevinos
Custo: R$ 4 é o preço de cada alevino
Vendas: piscicultores vendem o quilo a R$ 10
Retorno: a lucratividade é estimada em 33%
Fonte: http://revistagloborural.globo.com