Um turbilhão de sensações. É assim que o comerciante Wendel Rodrigo da Silva, de 32 anos, descreve o que sentiu ao pescar um pirarucu, considerado o maior peixe de escamas do Brasil, de 1,75 metro e cerca de 50 quilos, no rio Grande, em Indiaporã (SP), no noroeste paulista. “Senti uma mistura de euforia, alegria, preocupação e até dó, afinal este é um peixe diferenciado”, diz.
O comerciante é adepto da pesca subaquática, uma modalidade em que o pescador usa técnicas de mergulho e arpão para pescar. Ele conta que no domingo, dia 16 de agosto, foi pescar e próximo do horário de ir embora viu o peixe e, imediatamente, lançou o arpão. “Parece história de pescador, mas não é. Se me contassem também ficaria em dúvida, principalmente porque fiquei praticamente uma hora e meia até fisgá-lo de vez”, diz.
Esse tipo de pesca só é liberada se o pescador tiver a carteirinha, exigida por lei. Assim, o pescador profissional pode pegar 10 quilos de peixes comuns e um exemplar de até 80 quilos. O pirarucu é uma espécie nativa da Amazônia e é considerada exótica.
Segundo o tenente da Polícia Ambiental, Deivid Gabriel de Melo, o pirarucu excede todos os tamanhos de peixes da bacia do noroeste paulista. Melo afirma que não se sabe ao certo como o pirarucu veio parar em águas paulistas, porque a reprodução deste peixe pode ser um risco às espécies da região. “Este é um peixe típico da bacia amazônica e é um concorrente voraz para os peixes nativos desta região, já que se alimenta de tudo o que é menor que ele e está no topo da cadeia alimentar.”
O aparecimento do pirarucu na região noroeste paulista até já virou tema de um estudo na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Preto. Entre 2013 e 2014, os pesquisadores registraram a pesca de cinco exemplares no rio Grande.
O biólogo Emerson Esteves diz que o pirarucu sobrevive nesta região por causa das altas temperaturas. “A maioria dos casos de introdução de espécies exóticas nos rios brasileiros e no mundo é por meio do aquarismo. Em geral, a pessoa adquire esta espécie, mas com o tempo o peixe cresce muito e, para não matá-lo, o dono do reservatório ou aquário o solta na natureza, nos rios”, afirma.
Mesmo diante dos registros, o biólogo diz que encontrar um pirarucu desse tamanho longe da Amazônia é raro. “O pirarucu é um peixe de respiração pulmonar e, por isso, não se adapta à região Sudeste e Sul do País. Ele é cultivado mais acima, no Norte e Nordeste, e só sobreviveu nesta região porque não houve inverno rigoroso nos últimos anos.”
Fonte: http://g1.globo.com