Estado pretende dobrar produtividade de peixe

Estado pretende dobrar produtividade de peixeO Rio Grande do Sul tem um longo desafio para melhorar sua produção de peixe. Segundo pesquisa realizada pela Emater-RS, Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e Universidade Federal de Rio Grande (Furg), apenas 55% das 17 mil toneladas capturadas são comercializadas. O resto é para consumo próprio. Além disso, 65% dos produtores utilizam o sistema extensivo, ou seja, seus viveiros e tanques costumam ter outra prioridade, como irrigação, dessedentação animal ou reserva de água. Nesse caso, não há controle do ambiente e da reprodução dos animais, tampouco manejo dos insumos. A produtividade média é de 210 quilos por propriedade ao ano.

Sem oferta, as 84 unidades gaúchas de beneficiamento, que possuem uma capacidade instalada de 60 toneladas por dia, trabalham com uma ociosidade de 74%. Verificado o descompasso entre os dois elos do setor, a SDR e a Emater, em parceria com 60 prefeituras, estão aplicando um projeto para construção de viveiros. O objetivo é abrir 1 mil tanques nos próximos quatro anos, especialmente na regiões Central e Noroeste. O governo estadual deixa as máquinas necessárias à disposição de cinco grupos de cidades, que as utilizam em sistema de rodízio. A administração municipal fornece o operador e o licenciamento ambiental a partir de projeto da Emater.

Além de expandir a atividade, as entidades devem fornecer assistência técnica. O assistente técnico em piscicultura da Emater, Henrique Bartels, afirma ser possível elevar a produção de 892 quilos para 2 toneladas por hectare ao ano. “Podemos facilmente dobrar a produtividade sem grandes investimentos, adotando pequenas tecnologias, como adubação do viveiro, correção da acidez da água e fornecendo alimentação, mesmo que oriunda da propriedade, aos animais”, explica. O diretor de desenvolvimento agrário da SDR, Ricardo Núncio, é mais otimista. “É um grande desafio, mas queremos chegar a 5 toneladas por hectar/ano”, projeta. A produção intensiva hoje obtém 3,1 mil quilos por propriedade.

Para tanto, em um segundo momento do projeto, cinco unidades de referência devem ser espalhadas pelo Estado, em parceria com universidades. A capacitação deve ser feita pela própria Emater, com recursos da SDR, conforme Núncio. Se concretizadas, as unidades fornecerão subsídios técnicos específicos para que os criadores escolham, por exemplo, os métodos e espécies mais adequados às características da sua região. Atualmente, a carpa, por suportar uma amplitude térmica maior, representa 80% da produção. Em municípios do Norte, onde a temperatura média é maior, os produtores têm mostrado interesse em aumentar o número de tilápias, que hoje são 12% do total.

A pesca extrativista, enquanto isso, contava, em 2012, com 17,3 mil pescadores artesanais cadastrados Ministério da Pesca, sendo que 43% deles trabalham no complexo estuarino-lagunar Patos Mirim. Nesse caso, segundo Núncio, as agroindústrias também trabalham com ociosidade, e 355 viveiros devem ser construídos na região Sul, para associar o extrativismo com a piscicultura em assentamentos rurais. Os recursos federais para esse projeto, com contrapartidas do governo estadual, estão na casa de R$ 5 milhões. No que se refere a produção de alevinos, as incubadoras gaúchas forneceram 37 milhões de unidades em 2013, e a Emater quer introduzir mais 5 milhões nas propriedades em 2016.

Para a professora do Programa de Pós-graduação em Gerenciamento Costeiro da Furg, Tatiana Walter, o maior problema da atividade pesqueira é a expansão de outros segmentos em seu território, o que tem gerado degradação ambiental, poluição e desestruturação dos arranjos sócio produtivos. “Os pescadores têm sido vítimas da especulação imobiliária e das atividade portuária e petrolífera, que os afasta dos corpos d’água, dos quais dependem, e diminuem a produtividade dos ambientes devido à degradação ambiental”, alerta. Segundo Tatiana, tal desestruturação ocorre há décadas e é agravada pelos maiores estímulos à aquicultura e à pesca industrial.

Fonte – http://jcrs.uol.com.br