Gargalos inibem competitividade da cadeia produtiva do pirarucu, diz pesquisa

Na Amazônia, falta de cadeia competitiva prejudica oferta de pescado e impede geração de emprego e renda entre a população local

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A falta de frigoríficos e limitações na distribuição e comercialização são alguns dos gargalos que inibem a competitividade da cadeia produtiva de pescados na Amazônia brasileira, com foco no pirarucu. Estas são algumas das conclusões de uma pesquisa da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. O ponto de partida da tese de doutorado de Gleriani Ferreira é a evidência de que a falta de uma cadeia competitiva dificulta a oferta de produtos com qualidade e preço justo. Com isso, a região deixa de gerar empregos e renda para melhorar as condições de vida dos seus habitantes.

De acordo com Gleriani, a Região Norte do Brasil foi estudada porque detém um elevado potencial para a produção de pescados. “Com um quinto da água doce do planeta, o sistema fluvial da Amazônia apresenta uma enorme capacidade para atender o mercado interno e se tornar um grande exportador de pescados”, afirma. “Este potencial motivou o mapeamento de duas cadeias: a extrativista e a piscicultura, com estudos de campo nos Estados do Amazonas, Amapá, Pará e Rondônia.” A pesquisa foi orientada pelo professor Jacques Marcovitch, da FEA, autor do livro A Gestão da Amazônia.

A carne de pirarucu é um alimento com textura firme, excelente palatabilidade, sem espinhas intramusculares e com baixo teor de gordura. “Ou seja, ela possui grandes possibilidades de aproveitamento, tanto para o consumo popular como para a alta gastronomia”, aponta a pesquisadora. “Para o consumo popular, além de alimentar as comunidades ribeirinhas, o quilo de pirarucu é comercializado nos mercados de Manaus ao preço médio de R$ 20.”

Quando os fatores de competitividade na produção, processamento e comercialização são levados em conta, o pirarucu no Mercado Municipal de São Paulo alcança o preço médio de R$ 70 o quilo. “Mas os custos podem ser compensados com o tratamento dos resíduos, transformando-os em óleo de peixe e farinha de peixe que são ingredientes indispensáveis para a ração de animais”, observa Gleriani. “Além disso, o couro de peixe constitui uma fonte complementar de agregação de valor.”

Extrativismo e piscicultura

A cadeia extrativista do pirarucu na Amazônia refere-se ao peixe que prospera livremente nos rios. “Para isso, o Estado do Amazonas possui uma legislação que restringe a pesca de pirarucu a fim de preservar esta espécie diante dos riscos de extinção”, diz a pesquisadora. A piscicultura depende da articulação das etapas de reprodução, produção, abate, processamento, distribuição e comercialização. “O modelo para a atuação empresarial elaborado no estudo mostra que a base da competitividade da piscicultura é formada por quatro condicionantes: a natureza, a pessoa, a ciência e o quadro jurídico-institucional.”

A pesquisa indicou que um dos principais gargalos da piscicultura é a falta de frigoríficos. Contudo, também verificou-se limitações nos elos de distribuição e comercialização. “A falta de infraestrutura adequada reduz o prazo de validade para o consumo e impede que o produto seja distribuído nas demais regiões do País”, ressalta Gleriani. “Embora alguns governos estaduais ofereçam incentivos para a criação de peixes, produtores sofrem com a impossibilidade de abate em frigoríficos certificados com o Selo de Inspeção Federal (SIF), o que garante a possibilidade de comercialização em outros Estados.”

Segundo a pesquisadora, a cadeia produtiva do pirarucu pode ser impulsionada se for inserida na mobilização em prol de uma maior segurança nutricional para uma vida saudável, com vistas ao bem-estar de todos em todas as idades. “O trabalho também recomenda o aprimoramento da infraestrutura, com ênfase em frigoríficos certificados, sendo necessário aprimorar a competitividade em todos os elos da cadeia de valor”, ressalta.

O estudo identificou atravessadores que elevam o preço do produto final sem contribuir para a consolidação da cadeia produtiva. “Dentre as recomendações do estudo, é sublinhada a necessidade de aprimorar os elos intermediários e finais na Região Norte”, aponta. “O processamento completo feito por produtores sediados na região de origem seria capaz de garantir geração de emprego e renda, arrecadação de impostos e desenvolvimento local.”

Fonte: http://www.acritica.com