Um olho no peixe e outro no campo

Um olho no peixe e outro no campo“É preciso se preocupar muito com cuidar da terra, porque ela é orgânica e só vai responder bem com produtividade se for bem tratada. O mesmo acontece com o peixe e a água”. Esse é o pensamento de José Maria Bortoli, o Zeca, um dos Diretores da empresa que detém a maior produção de soja e algodão do mundo, além do maior consórcio lavoura-pecuária: o Grupo Bom Futuro, que está na ativa há 30 anos.

Ele e mais três empreendedores – Eraí Maggi Scheffer (conhecido como o ‘rei da soja’), Elusmar Maggi Scheffer e Fernando Maggi Scheffer – iniciaram uma grande história, recheada de muita vontade de trabalhar, que começou em uma pequena fazenda. “Nasci em meio à agricultura do Rio Grande do Sul, com seus vinhedos, macieiras e todo tipo de pomar. E sempre me vi motivado a buscar oportunidades diferentes, dentro da agricultura e fora dela”, relembra Zeca. Foi no Estado de Mato Grosso que a empresa foi instalada. “Ali havia grandes áreas cultiváveis a um preço atrativo, que possibilitaram o aumento da escala”, comenta. Antes de 1994, os grandes desafios estavam relacionados à infraestrutura e à instabilidade dos planos econômicos. Mas, com uma boa administração e transparência, logo o Grupo tornou-se uma potência produtiva no Estado, com atividades presentes em todas as regiões de Mato Grosso.

O segredo do sucesso do Grupo Bom Futuro apoia-se no plantio direto, na pesquisa de melhoramento genético das sementes, no recurso financeiro de longo prazo, na diversificação das culturas (com duas safras anuais devido ao regime de chuva na região), assim como na rotação e na integração lavoura-pecuária.

Patrimônio

Imagine o tamanho de quase duas vezes a cidade de São Paulo – ou cerca de 410 mil hectares de soja, milho e algodão, sendo 86 fazendas e 31 unidades centralizadoras em Mato Grosso. Essa é a realidade do Grupo Bom Futuro, que chega a empregar mais de cinco mil pessoas e tem suas atividades separadas em divisões. O Bom Futuro Agrícola, que compreende a produção de soja, milho e algodão, possui 13 armazéns de grãos, com capacidade para 800 mil toneladas. A divisão Sementes vende esses itens de soja e algodão para empresas reconhecidas nacional e internacionalmente. Também há uma unidade focada em aproveitar o potencial hídrico de Mato Grosso, gerando energia limpa e renovável, por meio de três pequenas centrais hidrelétricas.

Além disso, existe a Bom Futuro Transportes. O Grupo também tem a divisão Pecuária, cuja produção contabiliza 165 mil cabeças, entre Nelore, Meio Sangue e Aberdeen Angus para criação e engorda, desenvolvidas em confinamento e semiconfinamento. Para alimentar todo esse rebanho, a ração é feita em uma fábrica própria, cuja produção chega a 100 toneladas por dia.

O mercado está para peixe

A diversificação de atividades mantém o Grupo Bom Futuro no caminho certo, a partir da constatação de que o mercado está favorável para a piscicultura. A operação surgiu ao acaso. “Uma das fazendas que compramos já tinha um pequeno projeto de piscicultura instalado, que aos poucos foi sendo testado e profissionalizado. A partir daí começamos os novos investimentos. Testando e atestando, sem pressa. O mercado está para peixe, sim, principalmente agora que vemos cada vez mais a especialização de toda a cadeia”, afirma Zeca. Apesar de ser uma atividade agrícola ainda muito jovem no Estado de Mato Grosso, ela é vista pelo Bom Futuro como promissora. “Buscamos investir e testar novas tecnologias que possam contribuir para o aumento da escala de produção e a melhoria do padrão de qualidade do produto”, afirma a Gerente de Piscicultura e filha de Zeca, Aline Bortoli.

Seguindo os avanços e as tendências da aquacultura, o Grupo possui quatro unidades de produção, sendo três em tanques escavados em Mato Grosso, nos municípios de Campo Verde e Canarana, e uma em tanque-rede, em Juscimeira, também no Estado. Essa é a aposta para o futuro da empresa: investir na criação de peixes no sistema de tanque rede. “Enquanto os avanços na genética do peixe nativo estão sendo iniciados, estamos melhorando os apontamentos de gestão dentro do nosso negócio. Hoje temos nossa própria fábrica de ração e estamos em fase de conclusão dos testes em tanque-rede de grande volume”, conta.

Os tanques escavados possuem 250 hectares de lâmina d’água, nos quais são produzidas 2,5 mil toneladas por ano das espécies tambatinga, pintado da Amazônia, tilápia e piauçu. Na unidade de tanque-rede, o Grupo Bom Futuro conta com 12 jaulas de 18 por 18 metros. “Esperamos produzir 50 toneladas de peixe em cada uma, mas como estamos em fase de povoamento dessas jaulas, ainda não fizemos qualquer despesca que pudesse validar esse número”, diz a Gerente. “Operamos nossa Planta frigorífica, com Serviço de Inspeção Federal (SIF), por dois anos antes de adotar a estratégia de focar apenas na produção e deixar o beneficiamento para clientes mais voltados para esse segmento. Porém, agora estamos fazendo estudos de viabilidade na intenção de reativá-la, em parceria com esses clientes”, explica. “Hoje vendemos toda a nossa produção para unidades beneficiadoras espalhadas pelo Brasil, principalmente na região Centro-Oeste”, completa.

Nos últimos 12 meses, foram produzidas no Grupo Bom Futuro 2.727 toneladas de peixes, entre todas as espécies. “Assim como existem diferenças entre galinha caipira e frango de granja, também existem diferenças entre peixes de cultivo e pescados. O nosso diferencial é fornecer um peixe com excelente padrão de qualidade, com constância na entrega, boas práticas de manejo e garantia de que foi alimentado com uma ração que contém os melhores ingredientes do mercado”, afirma.

A formulação dessas rações é feita pela Nutron, marca da Cargill Nutrição Animal no Brasil, que é a fornecedora de núcleos. A parceria com o Grupo Bom Futuro já tem sete anos e começou quando a fábrica de rações extrusadas para peixes ainda era apenas um projeto. Hoje, o relacionamento entre as empresas atinge todos os níveis: o Diretor-geral da Cargill Nutrição Animal, Celso Mello, já visitou o Grupo Bom Futuro e a alta gerência deste já conheceu de perto o escritório da Cargill Nutrição Animal em Campinas/SP, assim como a fábrica em Toledo/PR. “Já realizamos ações de benchmark com esse cliente no Nordeste, na Argentina e no Paraná para apoiar novos investimentos. Nosso foco é expandir os negócios do cliente, então o levamos para conhecer possíveis parceiros para comercialização”, afirma o Gerente de Negócios de Aquacultura da Cargill Nutrição Animal, Hilton Hiroshi Oshima.

Na opinião de Nahzir Júnior, Gerente da Unidade Fartura do Grupo Bom Futuro, onde está situada a fábrica de rações, essa parceria é interessante. “Trabalhamos com a Nutron, que possui expertise em formular rações, considerando sempre a disponibilidade de matéria-prima local e seus valores de mercado, buscando como produto final uma ração balanceada e mais competitiva do ponto de vista econômico”, afirma. A planta fabril do Grupo Bom Futuro localizasse no município de Campo Verde/MT e tem a capacidade de extrusão de seis toneladas de ração por hora. Possuir uma fábrica própria traz alguns benefícios econômicos para o Grupo. “Em piscicultura, a ração representa 70% dos custos, sendo que a fabricação local gera uma economia de 20%. Conhecer a formulação, assim como ter o poder de fragmentá-la por níveis de proteínas e pellets, de acordo com cada espécie e idade, também é favorável. Outro detalhe é trabalhar com embalagens bags ou até mesmo a granel, reduzindo mão de obra e custo”, afirma o Gerente da Unidade Fartura.

Meio ambiente

No DNA do Grupo Bom Futuro está a sustentabilidade. Suas prioridades estão focadas no uso racional dos recursos naturais, em projetos ambientais, de reciclagem, reflorestamento e recuperação de áreas degradadas. O Bom Futuro respeita os rios, sua capacidade de suporte e, principalmente, a água, bem imprescindível para desenvolver as suas atividades. “Por meio da nossa piscicultura e do método semi-intensivo de produção, gera-se a diminuição da pesca extrativista. E por participarmos de projetos de soltura de alevinos (repovoamento de rios com espécies nativas), utilizando técnicas com comprovação científica e o apoio de universidades, mostramos a nossa preocupação com o meio ambiente”, afirma Aline. Além disso, a empresa conscientiza seus funcionários a colaborarem com a coleta seletiva e a compostagem. “Não basta apenas fazer o que está na lei, como cuidar das nascentes, tratar resíduos químicos, reflorestar. É preciso ir além. Também nos envolvemos em projetos que ajudam na arborização da cidade de Cuiabá, onde fica nosso escritório central, ao lado de uma área de preservação de Cerrado, o que nos lembra do convívio harmonioso que precisamos ter com a natureza todos os dias”, conta Zeca. “A Nutron é uma marca séria, que honra seus compromissos, respeita seus clientes e fornecedores”, acrescenta Zeca. “É uma parceria duradoura, que une, de um lado, a vontade de crescer e, de outro, a experiência do que já deu certo”, completa Aline Bortoli.

Futuro próspero

Quando o assunto é progresso, o Grupo Bom Futuro aposta na agricultura de precisão e em pesquisas. “Nunca fizemos muitos planos, mas uma coisa é certa: precisamos continuar crescendo de forma sustentável, com a mesma agilidade de resposta às mudanças dos ambientes externo e interno”, afirma Zeca. “Nossa intenção é sermos cada vez mais eficientes no que fazemos. Sendo assim, ainda temos bastante trabalho dentro de casa, pois há sempre espaço para melhorar”, conclui.

Em piscicultura, a ideia da empresa é continuar a produção de peixes em tanques-redes de grande volume. “Somos um player atuante e respeitado, que traz uma colaboração significativa para o negócio do peixe”, reforça a Gerente de Piscicultura.

Fonte – http://www.portaldoagronegocio.com.br