Nas gôndolas brasileiras, o mar tem estado para peixes em lata. As vendas do produto cresceram acima da inflação no último ano, segundo duas das principais consultorias de mercado, a Nielsen e a Euromonitor. E o mercado assiste a uma novidade: enquanto o atum – uma espécie de peixe mais cara – ficou mais presente que antes na mesa das famílias de nível socioeconômico menor, a sardinha – produto visto como popular – está em alta entre os mais ricos, segundo a consultoria Nielsen.
Em parte, isso é resultado de investimento da indústria em divulgar qualidades nutricionais do peixe: além de ômega 3, elas têm alto teor de cálcio, por causa das espinhas que se dissolvem no cozimento. Análises de mercado apontavam preocupações em relação ao efeito para a saúde dos enlatados, afirma Renata Martins, analista de pesquisa da Euromonitor Internacional, o que levou a indústria a lançar opções com até 80% menos sódio, por exemplo, além de fazer campanhas publicitárias para deixar claro que, apesar de serem conservas, os produtos não têm conservantes.
O que permite que uma lata dure até quatro anos é o processo industrial: as latas são fechadas hermeticamente e depois submetidas a alta temperatura, o que cozinha o conteúdo e o esteriliza. O avanço de enlatados entre consumidores mais ricos também reflete a adoção de embalagens mais práticas e a ampliação dos tipos de produtos.
No total, dados da Euromonitor mostram que o consumo de peixes em conserva subiu 13,8% no valor vendido entre 2014 e 2015 (já descontada a inflação), chegando a R$ 3,196 bilhões. Em volume, a alta foi de 5,4% entre 2015 e 2014, nos cálculos da Euromonitor, e de 5,2% no último ano móvel no levantamento da consultoria Nielsen. A alta supera a da cesta onde estão contidos nas análises da Nielsen, a de Culinários, que vendeu 1,5% a mais em volume.
Segundo Renata Martins, da Euromonitor, o consumidor de maior aquisitivo é o principal responsável pelo aumento de vendas do que a indústria chama de “itens com maior valor agregado”. O jargão costuma indicar que o fabricante assumiu funções que antes eram do cliente. O filé de sardinha, por exemplo, já vem sem pele e espinhas. O atum ou salmão já está misturado a batata, maionese, ervilha ou azeitona, num pote que, além da tampa abre-fácil, vem com um garfinho de plástico.
Mais lucrativos
As embalagens que dispensam abridor de lata resultaram em crescimento de vendas de 11% ao ano em número de unidades, de 2010 a 2015, segundo a Euromonitor.
A própria introdução de outras espécies de peixe – além do salmão, cavalinha, mexilhões e espécies mais nobres de atum, como o yellowfin – faz parte dessa estratégia de crescer em um nicho em que o volume pode até ser menor, mas o lucro é maior.
Antes restritos a duas ou três variedades de sardinha e atum, os fabricantes chegam a oferecer hoje mais de 50 linhas diferentes de produtos. Dados da Euromonitor mostram esse avanço da lucratividade: nos últimos cinco anos, o aumento real do segmento foi de 29,5% em volume e de 89,6% em valor, já descontada a inflação.
Na Gomes da Costa, que divide a liderança do segmento com a Camil (cada uma tem cerca de 40% do mercado), os produtos premium representaram apenas 7% do faturamento anual (atum representou 30% e sardinhas, 63%).
Os patês e produtos especiais, porém, são os mais lucrativos, segundo a presidência da empresa, cuja meta é elevar a fatia de receita obtida por eles para 30% até 2020.
Também na empresa os resultados cresceram mais que o volume entre 2007 e 2015. O faturamento anual quase quadruplicou, já descontada a inflação – foi de R$ 300 milhões para R$ 1,3 bilhão -, enquanto a produção foi de 20 mil toneladas/dia para 65 mil/toneladas dia.
Ou seja, dos R$ 15 mil por tonelada produzida que obtinha em 2007, a empresa passou a faturar R$ 20 mil por tonelada.
Fonte: http://www.folhape.com.br