O reaparecimento repentino da decoada no Pantanal sul-mato-grossense surpreendeu ambientalistas e fez soar um alerta para a pesca predatória. O fenômeno assusta os leigos pelo acúmulo de peixes mortos na superfície da água, que fica escura e com cheiro forte.
Contudo, o biólogo André Luiz Siqueira, presidente da ONG (Organização Não Governamental) Ecoa, deixa claro que a situação é comum nesta época do ano, natural e não prejudica o meio ambiente.
Com as cheias, as plantas que ficam nas margens dos rios são encobertas e morrem. As bactérias responsáveis pela decomposição consomem o oxigênio e deixam os peixes “sem ar”.
“O fenômeno é mais ou menos intenso dependendo do regime da cheia”, explica André. Ou seja, quanto mais o nível do rio sobe, mais vegetais são afetados e consequentemente mais animais vão morrer.
Segundo ele, nos anos de 2011, 2012 e 2014 a morte de peixes foi bem maior do que a registrada até o momento este ano.
A primeira decoada registrada esse ano, segundo ele, ocorreu na Serra do Amolar em abril. “A olho nu não matou muitos peixes, vimos poucos peixes boiando. Foram uns cinco dias de água escura”, afirma André.
Segundo ele, a chuva que atingiu a região fez aumentar o nível de oxigênio do rio, amenizando a situação. Contudo, no último dia 3 mais peixes apareceram mortos em quantidades superiores. A surpresa do presidente da Ecoa não se deve ao fenômeno em si, que costuma se repetir com frequência até a estiagem, mas pela forma repentina com que surgiu.
Ele calcula que em alguma baía pantaneira os igarapés tenham criado uma espécie de tampão, isolando a água imprópria, de forma que ela não foi “renovada” com a chuva. Possivelmente essa barreira natural tenha rompido, afetando o rio.
“Não tem como mensurar quantas toneladas ou quilos de peixes foram afetados porque eles variam em espécie e tamanho”, acrescenta o biólogo.
Os ribeirinhos são afetados pela decoada à medida que ficam impossibilitados de usar a água do rio, que uma vez carente de oxigênio torna-se imprópria, mas essa população já está acostumada a lidar com o fenômeno, segundo André, já que ele ocorre todos os anos.
Contudo, o presidente da Ecoa faz um alerta sobre os pescadores amadores que aproveitam o momento em que os peixes estão “tontos” pela falta de ar oxigênio e ficam vulneráveis à predação, principalmente por meio dos chamados ganchos, que são proibidos por lei.
“O fenômeno é natural, mas deixa os peixes extremamente vulneráveis. A pesca com gancho nesse período é proibida por lei. Eles capturam os animais quando eles estão boiando ainda vivos, ou seja, ainda estariam próprios para consumo. Nunca vi alguém pegar os peixes já mortos porque o risco de contaminação é muito grande, já que ele é sensível e apodrece rápido”, diz André.
Flagrante – Segundo informações da PMA (Polícia Militar Ambiental), até o momento houve apenas um flagrante de pesca predatória nesse sentido.
Nessa segunda-feira (8) um homem de 34 anos cujo nome não foi divulgado pela corporação foi flagrado enquanto fatiava em filés peixes que havia capturado enquanto estavam “tontos” pela falta de ar em razão da decoada.
Ele estava em uma casa na Rua Fernando Vieira em Ladário. Os militares foram até o local após denúncias.
O homem recebeu multa de R$ 1 mil e foi levado à sede da PF (Polícia Federal) de Corumbá. Foram apreendidos 13 quilos de filé de pintado, duas facas, um amolador e um isopor com capacidade para 80 quilos. Se ele for condenado, pode pegar de um a três anos de prisão.
Fonte: www.campograndenews.com.br/