Pesquisadora afirma que o estudo se tratou de uma inovação de produto a ser introduzido no mercado, como por exemplo a criação de um novo tipo de ração para alimentação animal
Normalmente descartados no meio ambiente, resíduos de carcaças do pirarucu (Arapaima gigas) podem ser utilizados no processo de produção de silagem e de composto orgânico. Esse foi o objeto do estudo “Inovações Tecnológicas no Tratamento de Resíduos da Indústria de Beneficiamento de Pescado de Maraã/AM”, desenvolvido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Finalizado em 2015, o projeto buscou desenvolver o processo produtivo da silagem e de composto orgânico, produzidos a partir dos resíduos das carcaças do pirarucu, como vísceras, nadadeiras, escamas e couro. O trabalho, desenvolvido por Sonia Alfaia e Rogério de Jesus, do Inpa, e por Frank Cruz, da Ufam, teve apoio da Fapeam por meio do Programa de Apoio à Consolidação das Instituições Estaduais de Ensino e/ou Pesquisa (Pró-Estado), edital nº 002/2008.
Para a pesquisadora, o estudo se tratou de uma inovação de produto a ser introduzido no mercado, como por exemplo a criação de um novo tipo de ração para alimentação animal, feita a partir de resíduo de pescado. “Foram utilizados para a produção de silagem, para alimentação de animais, e de adubos orgânicos, para produção de hortaliças, visando, dessa forma, agregar valor econômico a esses produtos”, conta.
Segundo o pesquisador Rogério de Jesus, a ideia surgiu a partir de estudos com os resíduos do pescado da Unidade de Beneficiamento de Pescado (UBP) no município de Maraã (a 634 quilômetros de Manaus).
“Na época, pescadores de Maraã passaram a ser responsáveis pela captura de metade do pirarucu manejado nas RDS’s Mamirauá e Anamã, visando agregar valor ao pescado. A Secretaria de Estado de Produção Rural do Amazonas (Sepror) implantou a Unidade de Beneficiamento de Pescado na região. A indústria foi inaugurada em outubro de 2011, para produzir filé de pirarucu seco, salgado – trazendo um processo novo para a região, o produto foi lançado no mercado regional e nacional com o nome comercial de ‘Bacalhau da Amazônia’, gerando efeitos de emprego e renda aos trabalhadores da região”, relata.
Meio ambiente
Sonia Alfaia destaca que, além de oferecer uma alternativa para despoluir o meio ambiente pelo aproveitamento de resíduos que são jogados na natureza, o projeto também pode ofertar uma proteína de origem animal de alta qualidade.
“Com relação à produção de composto, os resultados mostraram que a compostagem pode se constituir numa alternativa promissora à reciclagem dos resíduos de pescado, podendo resultar num composto de alta qualidade nutricional e de baixo custo de produção, com grande potencial para reposição de nutrientes ao solo – especialmente de fósforo, que é considerado o principal nutriente que limita a produção nos solos do Amazonas, sendo deficiente em 90% dos solos da região. Em condições de campo, os compostos produzidos apresentaram-se altamente benéficos para o cultivo de hortaliças e na melhoria das características do solo, mesmo quando comparados com os tratamentos com adubação química, com condições de substituir o esterco bovino na produção de adubos orgânicos na região”, afirma a pesquisadora.
Redução de custos
Segundo o professor Frank Cruz, a redução de custos com alimentação que o produto vai proporcionar aos produtores do setor de avicultura. “O Amazonas importa 100% de toda matéria-prima utilizada na confecção de rações (milho, farelo de soja, farinha de osso). Com a silagem de resíduos de pirarucu, essa importação será reduzida e isso é muito importante porque em aves o item alimentação corresponde a 80% do custo total de produção”.
Alfaia ressalta que a tecnologia para a produção de ensilado, a partir de resíduo da carcaça do pirarucu, para alimentação animal, está à disposição caso alguma empresa tenha interesse em produzi-la. E que, apesar do estudo ter sido realizado apenas com o resíduo de pirarucu, devido a sua disponibilidade, de maneira em geral, todos os peixes podem ser beneficiados com essa tecnologia.
Formação de recursos humanos
O projeto envolveu três dissertações de Mestrado concluídas, dois Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), seis trabalhos de Iniciação Científica concluídos e mais três bolsistas de apoio técnico.
Pró-Estado
O programa visa fortalecer e ampliar a formação de recursos humanos em nível de pós-graduação stricto sensu, além de apoiar, com recursos financeiros, a melhoria da infraestrutura de pesquisa de instituições vinculadas ao Governo do Estado do Amazonas.
Fonte: http://portalamazonia.com