O pacu é uma espécie nativa que se destaca pelo rápido crescimento, rusticidade, aceitação pelo mercado consumidor, além da adaptação a diversos sistemas de produção.
Estudo coordenado pela Embrapa Meio Ambiente em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Universidade Federal do Paraná e da Itaipu Binacional demonstrou que o nível de proteína na dieta afeta significativamente o crescimento, consumo de ração e a composição corporal dos juvenis de pacu em sistema bioflocos. O pacu é uma espécie nativa que se destaca pelo rápido crescimento, rusticidade, aceitação pelo mercado consumidor, além da adaptação a diversos sistemas de produção. O sistema bioflocos (BTF) permite altos índices de produtividade com baixo impacto ambiental, onde a biomassa microbiana, com alto teor proteico (25 e 50%), pode ser aproveitada como alimento complementar, o que potencialmente permite a redução do custo de produção.
O estudo também identificou que para juvenis de pacu entre 3,6 a 43,45 g, a proteína bruta adequada foi 31,5% (mais ou menos 27,2% proteína digestível). Por outro lado, nos menores níveis de proteína ofertada na dieta (19 e 23% PB), o crescimento dos peixes foi satisfatório indicando que o sistema bioflocos teve papel importante como alimento complementar.
O objetivo, explica Dara Pires, aluna do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UEMS, foi avaliar os efeitos dos níveis proteicos da dieta sobre o desempenho zootécnico, parâmetros hematológicos e bioquímicos, composição química corporal, índices somáticos e rendimentos de carcaça e filé de juvenis de pacu produzidos em sistema bioflocos. “Foram testados cinco níveis de proteína bruta (19, 23, 27, 31 e 35%) utilizando rações isoenergéticas (3.200 Kcal/energia digestível)”, explica Dara.
“Uma vez que os custos com o alimento industrializado estão diretamente relacionados com a quantidade de proteína presente na dieta, a definição do nível proteico adequado para determinada fase, espécie e sistema de produção é essencial, pois a alimentação pode representar até 70% do custo de produção”, complementa Dara.
Como o pacu possui capacidade de aproveitamento do alimento natural, os pesquisadores também verificaram se a biomassa microbiana presente no sistema bioflocos poderia complementar a necessidade proteica do pacu no sistema BFT com potencial redução deste macronutriente na dieta. Desta forma, explica o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Hamilton Hisano, como existe essa relação do alimento natural do próprio sistema, as exigências nutricionais já determinadas para a espécie em sistemas laboratoriais de recirculação de água nem sempre são as mesmas para o BFT.
De acordo com Hisano, deve-se utilizar concentrações adequadas de proteína na dieta para evitar o excesso ou falta deste nutriente, em razão desta condição prejudicar o desempenho e a saúde dos peixes, e principalmente o custo e o impacto ambiental quando a proteína é utilizado em excesso nas rações. O pesquisador ainda destaca que existem poucos estudos com espécies nativas de peixes tropicais em bioflocos, e a definição do nível proteico ótimo é um dos primeiros passos para o estabelecimento de protocolos de produção para uma determinada espécie.
Bioflocos
O sistema bioflocos é uma alternativa para minimização dos impactos ambientais, por meio da diminuição de efluentes e potencial redução da proteína via dieta com a melhora da conversão alimentar para a espécie que aproveite a reciclagem de nutrientes através da biomassa microbiana. O sistema contém microrganismos (bactérias , microcrustáceos, etc.) mantidos de forma agregada com a matéria orgânica particulada com o intuito de melhorar a qualidade de água, prevenção de doenças e o tratamento de resíduos. Deste modo, essa biomassa é responsável pela reciclagem de nutrientes do ambiente produtivo, podendo o bioflocos ser reutilizado por mais de um ciclo de produção e servir como suplemento alimentar dos animais presentes no sistema.
Produção
O Brasil, em 2020, produziu 802 mil toneladas de peixes provenientes da piscicultura, com um crescimento de 5,93% em relação a 2019. Este dado é bastante positivo no que diz respeito a comparação com outras fontes proteicas (bovina, suína e aves), que se mantiveram estáveis no mesmo ano. De acordo com dados do IBGE, no ano de 2018, o Brasil produziu mais de 154 mil toneladas de peixes redondos, destacando-se as espécies do pacu, tambaqui e pirapitinga, e híbridos tambacu, patinga e tambatinga.
Além da produção nacional de pacu, que está concentrada principalmente na região Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, outros países da América do Sul, como a Argentina, aumentaram significativamente a produção desta espécie garantindo um ótimo potencial para seu cultivo na aquicultura. Deste modo, o sistema bioflocos pode ser uma alternativa para impulsionar a produção do pacu.
Esse estudo está completo na dissertação de Dara Pires, pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
Fonte: Embrapa Meio Ambiente