Um peixe dá-nos ómega 3 mas também metilmercúrio. Como avaliar riscos e benefícios? No Dia Mundial da Alimentação, a Gulbenkian organiza nova conferência sobre o tema com a apresentação de estudo.
Comer peixe é bom para a saúde. É. Quer isso dizer que se gostarmos muito de atum e o comermos todos os dias a uma das refeições estamos a ter uma alimentação melhor, mais saudável? Não.
Que o peixe faz bem, sobretudo os mais ricos em ómega 3, é uma mensagem que já interiorizámos. Mas há um outro lado, menos falado: os riscos. E estes prendem-se essencialmente com os contaminantes (como, por exemplo, o metilmercúrio). O que temos de fazer de cada vez que comemos peixe é, dizem os especialistas, encontrar o equilíbrio entre estes riscos e os benefícios.
É este o tema da quinta conferência do ciclo O Futuro da Alimentação – Ambiente, Saúde e Economia, uma parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian e o PÚBLICO, que acontece hoje, no Auditório 2 da Gulbenkian, às 17h30, coincidindo com o Dia Mundial da Alimentação. Presidida por Carlos Sousa Reis, antigo presidente do Instituto Português de Investigação do Mar (Ipimar), tem como oradores José Luís Domingo, investigador catalão especialista em toxicologia, e Carlos Cardoso, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA, ex-Ipimar), que apresenta um estudo sobre os nossos hábitos de consumo de peixe e a relação riscos-benefícios.
“As pessoas têm de seleccionar bem o peixe que comem e o tratamento culinário que aplicam”, afirma Carlos Cardoso. Nem todos os peixes têm os mesmos níveis de contaminantes, nomeadamente de metilmercúrio. Os que têm níveis mais elevados são os que estão no topo da cadeia alimentar, ou seja, aqueles que se alimentaram de outros peixes e crustáceos que já tinham retido metilmercúrio que, por sua vez, tinham ingerido o do fitoplâncton e zooplâncton. E no topo estão peixes como o peixe-espada preto, os tubarões, as raias, o espadarte e, “em menor grau”, o atum.
Se absorvido em quantidades elevadas, o metilmercúrio afecta o sistema neurológico. E, sobretudo, pode ter consequências bastante negativas sobre o feto se as mulheres grávidas ou a amamentar consumirem muito uma determinada espécie de peixe mais contaminado.
José Luís Domingo, o investigador catalão director do Seafood Risk Assessment da Universidade Rovira i Virgili em Tarragona, explica ao PÚBLICO, numa conversa telefónica, que há três coisas fundamentais a ter em conta quando se escolhe um peixe. A primeira é a procedência. “Há mares fechados, como o Báltico, junto a países altamente industrializados, onde os níveis de contaminação são maiores.”
O segundo cuidado a ter é o de não consumir sempre a mesma espécie – por exemplo, o atum de que falávamos. E o terceiro é evitar consumir quantidades muito grandes de um tipo de peixe numa refeição. Mas como estas são indicações gerais, uma equipa liderada por Domingo criou um instrumento, o Programa Ribepeix, que permite ao consumidor medir os níveis de contaminação a que está sujeito quando ingere determinado tipo de peixe.
“Fizemos uma lista das 14 espécies mais consumidas em Espanha, que imagino não serão muito diferentes das de Portugal, e, com a ajuda de análises químicas, construímos um simulador”, explica o investigador. “Este indica todos os nutrientes, mas também os contaminantes, e, no caso destes, mostra se está a ultrapassar os níveis aconselhados. Se isso acontecer, propõe alternativas.”
O inquérito que o IPMA fez sobre os consumos de peixe em Portugal diz-nos se os portugueses comem em excesso peixes com alto nível de contaminantes? Não há conclusões surpreendentes ou sequer preocupantes, mas o estudo – realizado no âmbito do projecto Goodfish, e que inclui 23 produtos de pesca diferentes e baseia-se em respostas de 1400 pessoas – aponta tendências. Por exemplo, a frequência do consumo de bacalhau e sardinha (fresca e em conserva) é superior entre os mais velhos; e o salmão é mais consumido entre as faixas etárias mais jovens.
Fonte: http://www.publico.pt