A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) realizou, nos dias 19 e 20 de fevereiro de 2013, encontros técnicos sobre piscicultura nos municípios de Morada Nova de Minas e Felixlândia, na região Central do Estado. Durante os encontros, foram apresentados a piscicultores, pescadores, técnicos e representantes de instituições de classe os resultados do projeto Ordenamento e monitoramento de áreas aquícolas do Reservatório de Três Marias.
Os pesquisadores da Epamig, Elizabeth Lomelino Cardoso e Vicente de Paulo Macedo Gontijo, apresentaram estudos de análises de águas em regiões com maior concentração de pisciculturas (unidades produtivas) e falaram sobre questões ligadas à produção de tilápias em tanques-rede na região.
Segundo os pesquisadores, as análises apontaram três categorias de áreas aquícolas no reservatório: áreas onde há grande renovação da água, por efeito de correntes, com qualidade da água adequada; áreas onde não há grande renovação de água, mas a movimentação superficial, associada às condições geográficas do local, possibilita a manutenção da qualidade da água; e áreas onde há barramentos ou estão em pontos pequenos e estreitos do reservatório, que devem ser evitadas para implantação de médios ou grandes projetos de piscicultura.
De acordo com a pesquisadora Elizabeth, alguns piscicultores instalaram unidades produtivas em áreas de deprecionamento da represa. “Aconselhamos a mudança do local dessas unidades no período da seca. O mais adequado seria evitar projetos de pisciculturas nessas áreas”, disse. “De maneira geral, a qualidade da água no reservatório de Três Marias é boa. Encontramos apenas alguns problemas pontuais que foram apontadas aos piscicultores”, explica o pesquisador Vicente.
Atualmente, são realizadas nas pisciculturas apenas medição de temperatura. O pesquisador alerta aos produtores à importância do monitoramento. “A má qualidade da água pode afetar a imunidade do peixe, predispondo-os a doenças e fungos. Portanto, os produtores não devem deixar de monitorar suas unidades”, enfatiza. Vicente aponta que também deve ser feito, frequentemente, medição da temperatura da água para evitar o estresse do peixe e evitar o risco de mortandade. “Em casos de altas temperaturas é necessário diminuir a alimentação dos peixes”, orienta.
Para o piscicultor de Morada Nova de Minas, Valnei Vicente de Lima, que há dois anos mantém criação de tilápia em tanques-rede, o momento é de crescimento. “Vamos ampliar nossa produção em 50%”, comemora. Atualmente, Valnei mantém produção de tilápias em 125 tanques-rede de 2m X 2m e dará início à implantação de mais sete tanques maiores de 3m x 6m. Com a despesca (retirada dos peixes com a rede dos viveiros/tanques) de 7 mil kg de tilápias por mês, ele afirma ter um lucro mensal de R$ 7 mil. “Calculamos depreciação, combustível, custo operacional, despesa de pró-labore dos sócios e folha de pagamento dos funcionários. Tentamos manter uma contabilização real do nosso negócio”, explica.
Para o piscicultor, o maior gargalo da atividade está ligado à regularização das unidades produtivas e dos abatedouros. “Temos dificuldades em função do alto custo da legalização”, disse. Embora o piscicultor ressalte o crítico momento, decorrente do baixo nível da água no reservatório, para ele a piscicultura é uma atividade promissora. “A cada ano cresce mais o consumo de tilápia. Podemos pensar em pelo menos dez anos de crescimento do setor”, acredita.
Na Cooperativa dos Piscicultores do Alto e Médio São Francisco (Coopeixe), o processamento de filé de tilápia e outros subprodutos é feito com a autorização dos órgãos fiscalizadores. “Temos registro do Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SIF), que nos permite vender para outros estados do país”, comemora o gerente geral da Coopeixe, Andrei Baroni. Segundo ele, a cooperativa comercializa o filé para Belo Horizonte e cidades da região de Morada Nova de Minas, e o peixe inteiro é vendido até mesmo para outros estados, como Piauí e Espírito Santo.
Para Andrei, o maior entrave do negócio é o fornecimento de peixe. Segundo ele, muitos produtores optam por fazer, clandestinamente, o processamento do peixe em sua propriedade e, portanto, não o vendem para os frigoríficos. “A piscicultura ainda não tem uma cadeia totalmente formada”, afirma. O gerente conta que a cooperativa pretende iniciar projeto de integração com o produtor. “Forneceremos alevino, ração e assistência técnica e o produtor nos garantirá em contrato o fornecimento de peixe. Esse sistema funciona na avicultura”, explica Andrei.
Ordenamento e monitoramento da água em Minas
Esse estudo é parte do projeto de Ordenamento da implantação e desenvolvimento da piscicultura intensiva nos Reservatórios de Três Marias, Furnas e Nova Ponte, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A partir de 2011, os pesquisadores da Epamig realizaram levantamento do número de unidades produtivas, visitas técnicas às pisciculturas e entrevistas com técnicos da Emater-MG e com os piscicultores da região para coleta de dados dos municípios do entorno dos três reservatórios. Foram contabilizadas 67 pisciculturas na região do reservatório de Três Marias, com produção anual estimada em 4.572 toneladas.
Foram realizadas análises da água por meio de uma sonda multiparâmetros com o objetivo de medir variáveis físicas e químicas da água, como temperatura, pH, nitrato, amônia, cloreto e oxigênio. Alguns pontos do reservatório mostraram-se impróprios para o cultivo em maior escala, pois não permitiam a remoção dos dejetos sólidos. “Nesses casos, recomendamos que as pisciculturas estabelecidas nesses pontos sejam deslocadas para outras áreas, onde as condições de circulação da água sejam adequadas”, orientam.
A série Documentos “Ordenamento e monitoramento de áreas aquícolas do reservatório de Três Marias”, com os resultados desses estudos pode ser adquirida através da Divisão de Gestão e Comercialização da Epamig: telefone (31) 3489-5002 ou e-mail publicacao@epamig.br.
Os resultados dos estudos nos reservatórios de Furnas e Nova Ponte também serão publicados e disponibilizados a partir de maio deste ano.
Centro de Referência em Piscicultura
De acordo com a pesquisadora Elizabeth Lomelino, nos últimos dez anos a piscicultura deixou de ser, no Brasil, uma atividade de “fundo de quintal” e inicia-se na profissionalização. “Minas Gerais possui condições para se tornar grande produtor de peixe, devido ao Estado contar com grandes volumes de águas em reservatórios de usinas hidrelétricas”, aponta.
Com o objetivo de fortalecer a piscicultura da região do alto e médio São Francisco, a Epamig teve projeto aprovado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com recursos que somam cerca de R$ 450 mil para implantação de unidade de pesquisa de piscicultura em sistema de fluxo contínuo de água.
Serão realizadas pesquisas com espécies nativas e sistemas de produção de tilápia. O centro poderá realizar estudos de avaliação zootécnica de algumas espécies nativas da bacia do São Francisco que tenham características promissoras para o cultivo intensivo. “Essas espécies podem ser alternativas para cultivos comerciais, visando outros nichos de mercado”, explica Vicente.
A expectativa é trabalhar em convênio com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de Viçosa (UFV), dentre outras instituições parceiras. A construção do centro deve ter início em maio deste ano, e a conclusão está prevista para 2014.
Fonte: http://www.agrosoft.org.br/agropag