Mato Grosso se tornará, nos próximos 3 anos, líder nacional na criação de peixes. Previsão foi feita por especialistas, produtores e representantes do Poder Público
Atualmente o Estado já é o 1º na produção de peixes nativos e, no geral é o 6º colocado, com aproximadamente 35 mil toneladas por ano. A rentabilidade do negócio, que chega a ser 10 vezes maior do que a da soja, tem atraído produtores que apostam na sustentabilidade do negócio para prosperar. No entanto, os mesmos especialistas são unânimes em afirmar que a burocracia é o principal desafio a ser superado para que a previsão se confirme.
Nesta semana, uma missão comercial da Hungria visitou o município de Sorriso (a 420 km da Capital). O país europeu, considerado em outras épocas o celeiro daquele continente, detém a tecnologia mais avançada do mundo na criação de peixes em cativeiro e estas informações poderão ser usadas para melhorar a qualificação dos produtores mato-grossenses. Os empresários Gyuba Borbely e Istaván Ittzés, que também é técnico do Departamento de Pesca da Universidade de Santo Estevão, se mostraram impressionados com o potencial existente em Mato Grosso.
Ittzés explica que a viagem ao Brasil foi acertada durante uma visita do Ministro da Pesca, Marcelo Crivella, à Hungria em março deste ano. “Ele ficou bastante impressionado com o que viu na Hungria, um país agrícola conhecido na Europa pelas mesmas qualidades hoje exaltadas em Mato Grosso. Historicamente, a piscicultura começou no Brasil no século 13, então temos um bom conhecimento na criação, inclusive em situações adversas”.
Depois do encontro na Hungria, Crivella convidou os 2 empresários para participarem, no Rio de Janeiro (RJ), do seminário Cultivo Conjugado de Vegetais, Frutas e Legumes com Pescado – Uma Alternativa Promissora. Na ocasião, eles proferiram palestra sobre aquaponia (produção de pescado associada à produção de vegetais, principalmente verduras e legumes) e produção consorciada de peixes e verduras. Após o evento, Crivella convidou os 2 a conhecerem a produção em Tocantins, no Rio de Janeiro, Santa Catarina e Mato Grosso. “Ficamos muito impressionados com o tamanho de Mato Grosso e o potencial, em especial, desta região. É nossa intenção continuarmos as conversas para, quem sabe, acertarmos algum tipo de cooperação”, prevê Borbely.
Antes de chegarem a Sorriso, os húngaros, acompanhados de técnicos do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), conheceram o trabalho desenvolvido na região pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Coordenador do órgão, João Flávio Veloso Silva, apresentou à missão o trabalho desenvolvido em Mato Grosso no que se refere à piscicultura. “Hoje focamos o estudo sobre a nutrição dos peixes e a qualificação dos produtores interessados na criação de peixes. Precisamos melhorar a produtividade, a exemplo do que já foi feito com a criação de aves. Hoje, isso é tão visível, que com 1,9 kg de ração, produzimos 1 kg de carne para consumo”.
Veloso explicou também as dificuldades enfrentadas pelos produtores, mapeadas pela Embrapa. “Trinta e nove porcento afirmam que o manejo é a maior dificuldade, 36% falam da nutrição, 20% da comercialização e 5% se referem a outros aspectos. Infelizmente, os problemas com o licenciamento ambiental impedem dobremos o volume produzido. Tenho certeza que com uma grande integração, a produção de peixes nativos nos fará brilhar no mercado internacional”.
Único pesquisador da Embrapa a se dedicar ao estudo da piscicultura em Sinop (a 500 km da Capital), Daniel Ituassu ressalta que a grande vantagem de Mato Grosso em relação a outros estados é a questão da ração. “Aqui não há a necessidade de se comprar os itens de nutrição em outros lugares, o que barateia o custo de produção”. Ressaltou que atualmente o foco está na qualificação de profissionais, pequenos, médios e grandes produtores. “A transmissão do conhecimento é muito importante para o aumento da produtividade”.
Depois da visita à Embrapa, os húngaros conheceram algumas propriedades que já desenvolvem a piscicultura de peixes nativos. Acompanhados do presidente da Comissão de Agropecuária da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (AL/MT), deputado Mauro Savi (PR), encarregado da apresentação do Estado por Crivella, eles visitaram a Fazenda Carol, de propriedade do prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato. Atualmente, ele mantém, aproximadamente, 250 mil peixes entre pintados, tambaquis e outras espécies nativas. “Começamos a trabalhar em 1991, com lagos liberados para a piscicultura, áreas de lazer e projetos de irrigação. A criação em cativeiro dessas espécies só vai aumentar, principalmente porque os peixes de rio estão se esgotando. Acredito que a aquicultura, em Mato Grosso, será fundamental para garantir o fornecimento de peixes para o mundo. É uma atividade promissora, rentável e essa troca de conhecimento com os húngaros nos trará ótimos ganhos”.
A rentabilidade foi destacada por Savi, enquanto a comitiva acompanhava a retirada de aproximadamente 20 toneladas de peixes da fazenda. “Em 1 hectare de tanque, a produtividade é a mesma que as melhores colheitas de 10 hectares de soja, aproximadamente 72 sacas por hectare, o que mostra que a atividade é boa também para os pequenos produtores. Do ponto de vista financeiro, a lucratividade da criação chega a 50% acima do valor investido”. Um exemplo de como a piscicultura pode e deve se combinada com outras práticas, na opinião de Savi, é a utilização dos reservatórios de água das plantações de soja para a criação de peixes. “É uma atividade altamente sustentável”.
Fonte: http://www.portaldoagronegocio.com.br