A partir de 2014, o sistema penitenciário do estado do Rio de Janeiro terá uma nova, interessante e rentável atividade de capacitação profissional para oferecer aos detentos: o cultivo de peixes ornamentais. Um acordo de cooperação para viabilizar a iniciativa foi assinado na manhã desta quarta-feira (3) no Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), em Brasília.
“Vamos despertar nos detentos o interesse pela natureza, pelos peixinhos, e eles vão ter uma profissão digna e com boa remuneração”, afirmou na ocasião o ministro Marcelo Crivella. Assinaram o documento, pelas entidades parceiras, o Subsecretário Geral de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro, Antônio Camilo Branco de Faria, e o professor Manuel Vasquez Vidal Jr, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro ( UENF), representante do reitor Silvério de Paiva Freitas.
Para o subsecretário Antônio Faria, a Lei de Execução Penal brasileira prevê não apenas a punição como o desenvolvimento de ações que permitam a reintegração do preso à sociedade. O acordo, disse, “vai contribuir muito para o resgate da dignidade do ser humano e para a ressocialização”. o sistema carcerário do Rio de Janeiro conta hoje com 41.500 detentos.
Perspectivas
Atualmente no Brasil são criadas aproximadamente 900 espécies de peixes ornamentais, sendo as principais o acará-bandeira (Pterophyllum scalare) e o Acará-disco (Symphysodon discu), nativos da Bacia Amazônia; a capa ornamental e o kinguio, conhecido por japonês ou dourado, um dos mais populares no mundo. Existem no País mais de cinco mil piscicultores no setor, que respondem por 12 a 15 milhões de unidades de peixes ornamentais por ano, dos quais três milhões de kinglio e de carpa. Cada peixinho vendido pelo produtor vale de R$ 0,20 a R$ 300,00, no caso de matrizes de espécies mais valorizadas.
“Quase metade dos produtores atuam em centros urbanos, em áreas com 500 a 600 m2”, diz o zootecnista e professor Manuel Vasquez, da UENF. Ele afirma que os pequenos produtores, que exercem as suas atividades em áreas abaixo de cinco mil m2, obtêm um rendimento familiar mensal da ordem de R$ 3 mil a R$ 4 mil.
Os peixes de aquário são mais comercializados em cidades acima de 100 mil habitantes, recorda Manuel Vasquez. Ali, o peixe ornamental assegura um mercado muito maior, formado por venda de aquários, filtros, rações, medicamentos e manutenção. “Cada dólar investido na criação gera US$ 75,00 na cadeia produtiva”, estima o professor.
Os principais polos de criação brasileiros se concentram no município de Muriaé , na Zona da Mata de Minas Gerais, e de Magé, na região metropolitana do Rio de Janeiro. No Nordeste, a atividade ocorre na Grande Recife (PE) e no entorno de Fortaleza (CE) e Salvador (BA), bem como em Mogi das Cruzes (SP) e outras localidades.
Treinamento e capacitação
O treinamento e a capacitação para a produção de peixes ornamentais será realizada inicialmente em quatro unidades prisionais do Rio de Janeiro, sendo três masculinas e uma feminina. “A ideia é que cada unidade desenvolva duas espécies de peixe ornamental, diferentes das demais”, diz Manuel Vasquez. Uma pode cultivar o Acará-disco, em estufa, de acompanhamento mais intensivo, e, em área externa, o peixe Molinésia, que exige cuidados semi-intensivos, enquanto outra unidade carcerária poderá se dedicar a espécies como Melanotaenia (peixe arco-íris) e Guppya, explica o professor.
Os cursos, com duração de seis a 12 meses, irão formar aproximadamente 60 piscicultores por ano em cada unidade. As aulas serão ministradas por estudantes e professores da UENF. Posteriormente, os formandos poderão se tornar multimplicadores de conhecimentos sobre o assunto nas instituições carcerárias. O aprendizado servirá não apenas para o aluno se tornar um piscicultor como para trabalhar em lojas e empresas relacionadas a aquarismo.
Fonte: http://www.mpa.gov.br/