Manaus – O Centro de Reabilitação de Peixe-boi Amazônico de Base Comunitária do Instituto Mamirauá, o Centrinho, existe há seis anos e já recebeu 15 filhotes órfãos de peixe-boi amazônico.
Os animais são provenientes de diferentes municípios das calhas dos rios Solimões e Japurá, no estado do Amazonas, desde a fronteira, em Atalaia do Norte, até uma localidade no rio Solimões à jusante de Tefé.
Desses 15 animais recebidos, sete eram machos e oito fêmeas, com idades estimadas entre um mês e um ano e meio. Comprimentos totais variaram entre 85 e 163 cm, sendo o peso mínimo nove e o máximo 64 kg.
Os ‘seis anos do Centrinho’ foi uma das pesquisas durante o 10º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia do Instituto Mamirauá, realizado em Tefé (AM), de 3 a 5 de julho de 2013.
Segundo a oceanógrafa Miriam Marmontel, coordenadora do Centrinho, do total de animais resgatados, três vieram a óbito por razões de saúde debilitada e baixa imunidade ao chegar.
Um foi removido do recinto por agente não identificado, cinco foram liberados ao ambiente natural – um dos quais foi recapturado e reencaminhado a cativeiro – e outros seis são animais de pouca idade e em reabilitação, ainda não aptos à soltura.
O envolvimento comunitário tem feito parte da estratégia do Centrinho desde seu início, com participação de moradores locais em todas as etapas do processo de implantação e implementação da iniciativa.
Um dos resultados relevantes do envolvimento da população foi o episódio de captura de peixe-boi em malhadeira, resultando na soltura imediata, seguida de reencontro com a mãe.
“O Centrinho foi idealizado como uma alternativa aos cativeiros em ambiente urbano, e representa uma iniciativa inovadora para a conservação de peixes-boi”, concluiu Miriam.
Monitoramento por radiotelemetria
O monitoramento de quatro peixes-bois órfãos reabilitados no Centro de Reabilitação de Peixe-boi Amazônico de Base Comunitária do Instituto Mamirauá, na Reserva Amanã, demonstrou que eles podem readaptar-se ao meio natural após a reabilitação.
A maioria deles é jovem e foi capturada incidentalmente em redes malhadeiras. Foi a constatação de uma pesquisa realizada por meio do projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos, desenvolvido pelo Instituto Mamirauá, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental.
Após um período de reabilitação, quatro indivíduos com sensores foram monitorados por cinco meses. O monitoramento iniciou em agosto 2012.
“Por meio de equipamento de radiotelemetria, pode-se acompanhar os seus deslocamentos e sua distribuição espacial. O rastreamento foi realizado a bordo de pequenas embarcações. A partir das localizações foram elaborados mapas com a distribuição espacial de cada indivíduo referentes a cada mês de monitoramento”, explicou Miriam.
Em agosto, os quatro animais realizaram apenas pequenos movimentos em áreas próximas ao local da soltura e nos meses subsequentes realizaram maiores deslocamentos ao longo do igarapé Juá Grande, no lago Amanã e outros igarapés tributários. Um dos animais que não se adaptou bem ao ambiente, talvez por apresentar o maior período de permanência em cativeiro, foi recapturado.
Segundo a bióloga Camila Carvalho, uma das autoras da pesquisa, observou-se ainda que alguns animais se deslocaram juntos durante determinados períodos do monitoramento, e que em grande parte do período monitorado os animais estavam em boiadores (regiões de maior profundidade) do lago Amanã.
“Os resultados da pesquisa indicam que animais reabilitados podem se readaptar ao ambiente natural, utilizando áreas que são utilizadas por peixes-boi nativos, como boiadores e áreas de “comedia” (ou áreas de alimentação), e explorando novas áreas ao longo do lago Amanã e dos igarapés adjacentes”, concluiu Camila.
Fonte: http://www.d24am.com/