O pirarucu (Arapaima gigas) apresenta alto valor comercial e características favoráveis para o cultivo intensivo. Tentando sanar algumas barreiras para tornar a produção do peixe mais atrativa na Amazônia, o Grupo de Pesquisa Aquicultura na Amazônia Ocidental, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), vem realizando estudos sobre o uso do farelo de soja como alternativa de ingrediente para tornar a produção desta espécie mais barata e mais competitiva.
Para a líder do grupo de pesquisa, a pesquisadora do Inpa, Elizabeth Gusmão, o farelo de soja pode ser um ingrediente importante, em termos nutricionais, para substituir a farinha de peixe, insumo muito utilizado na dieta de peixes. “O uso da farinha de peixe, cujo preço é bastante elevado (o quilo varia de R$ 2,00, se for nacional, a R$ 5,00 ou R$6,00, se for importada), deverá, nas próximas décadas, desaparecer do mercado”, alerta a pesquisadora, acrescentando que o farelo de soja custa em média R$ 0,90 o quilo.
Em decorrência disso, Gusmão explica que o Grupo de Pesquisa em Aquicultura tem trabalhado para atender duas demandas: diminuir os custos de produção do pirarucu e encontrar alternativas que possam ser utilizadas, no futuro, para a criação, não somente do pirarucu, mas de outras espécies de interesse da piscicultura brasileira.
De acordo com a pesquisadora, existem vários desafios que precisam ser superados para incrementar a produção do pirarucu na região, dentre eles, ela cita as exigências nutricionais, principalmente, por ser um peixe carnívoro e de grande porte. “Em razão do hábito carnívoro, essa espécie requer altas concentrações de proteína na dieta, o que aumenta o investimento na produção, restringindo o interesse, sobretudo, dos pequenos produtores”, disse.
“O pirarucu, sem dúvida, é um peixe de grande aceitação no mercado regional, nacional e até internacional, portanto, o mercado não é o problema para esta espécie”, ressalta Elizabeth, acrescentando, no entanto, que a falta de oferta de alevinos, uma vez que não se domina a sua reprodução artificial, é um desafio que a pesquisa precisa responder e disponibilizar para a sociedade, principalmente para o Amazonas, maior produtor extrativista deste peixe no país.
“Temos esse perfil e estamos entre os maiores consumidores de peixe do mundo, cujo consumo per capita, hoje, na cidade de Manaus, está em torno de 33 kg por habitante em um ano, muito superior à média mundial, que é de aproximadamente 18 kg por habitante/ano”, destaca a pesquisadora.
Na opinião dela, a produção de pescado tem como principal mercado da região Norte a cidade de Manaus, que recebe peixes (principalmente Tambaqui, dos estados de Roraima, Rondônia e Acre. “Não produzimos o suficiente para abastecer a cidade, embora, o Amazonas seja o maior produtor desta espécie na região”, afirma Elizabeth Gusmão, ressaltando que para a criação do pirarucu, embora o estado de Rondônia detenha a maior produção, os investimentos no Amazonas têm se intensificado e espera-se o aumento da produção nos próximos anos.
A pesquisa
Os estudos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa de Aquicultura na Amazônia Ocidental, da Coordenação de Tecnologia e Inovação (Coti/Inpa), avaliaram os efeitos da substituição da farinha de peixe pelo farelo de soja na dieta do pirarucu. Os resultados zootécnicos dos peixes alimentados com rações, onde o farelo de soja substituiu parte significativa da farinha de peixes, foram comparáveis aos que foram alimentados com farinha de peixe como fonte de proteína na dieta. Esses resultados são corroborados com as condições fisiológicas dos peixes, confirmando o potencial do farelo de soja como substituto à farinha de peixe na dieta do pirarucu.
Posição
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês), o Brasil ocupa o 12º lugar no “ranking” mundial de produção de pescado. Entretanto, no último Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura, publicado pelo do Ministério da Pesca e Aquicultura em 2013, retrata que a produção de peixe, no ano de 2011, com cerca de 628,7 mil toneladas, teve um incremento de 31,1% em relação à produção de 2010, que foi de 479.398,6 mil toneladas. Apesar disso, a produção do Brasil ainda é considerada baixa pela FAO, em relação ao seu potencial e em comparação a outros países.
Fonte: http://www.brasil.gov.br