Nossa seleção brasileira, junto com todas as outras participantes da copa do mundo, irão ensinar bastante sobre futebol ao Catar, pequeno país localizado na península arábica. Mas o que o Catar poderia ensinar ao mundo sobre aquicultura?
Segundo a FAO, a aquicultura no Catar está ganhando força nos últimos anos. Desde 1988, esforços significativos para desenvolver o setor têm sido feitos. Existem alguns tanques de peixes no setor privado usando sistemas de cultivo extensivo e semi-intensivo. O aumento contínuo no consumo de pescado e na demanda por pescado no Catar precisam ser supridos pela produção aquícola. Os recursos naturais para a aquicultura ainda não foram explorados e exigem um esforço pioneiro tanto do governo quanto do setor privado. As terras costeiras indisponíveis para a agricultura e atividades comerciais estão disponíveis para a piscicultura e a criação de camarões.
A atividade de aquicultura no Catar começou em 1988 com a construção de um pequeno centro de pesquisa em aquicultura experimental do governo em cooperação com especialistas da Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA), chamado Centro de Aquicultura de Doha. O centro realiza pesquisas sobre espécies selecionadas adequadas à piscicultura de acordo com seu preço e demanda no mercado local. Atualmente o setor privado se concentra na aquicultura de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). A maioria das fazendas privadas estão localizadas no extremo sudoeste do país.
O centro começou a trabalhar com o peixe espinhento-de-mancha-branca (Siganus canaliculatus), um peixe popular no Catar. Os alevinos silvestres coletados no mar em março, três meses após a época de desova, foram criados em sistema aberto por 6-8 meses até atingirem tamanho comercializável de 200 g. Em 1998, iniciaram-se as experiências de criação de larvas tanto do espinhento-de-mancha-branca (Siganus canaliculatus) como do dourado (Acanthopopagrus latus) e conseguiram a desova controlada desta última espécie. Os alevinos produzidos em incubação foram lançados no mar para aumento de estoque durante 1998-2000 e 2002. Em 2004, 3.000 larvas de camarão tigre verde (Penaeus semisulcatus) também foram produzidas sob condições controladas e lançadas no mar.
A título experimental, o dourado foi criado com sucesso durante 18 meses. Em 2001 foi estabelecida uma pequena unidade de incubação com sistema de tratamento de água do mar e unidade de produção de rotíferos. Em 2002, iniciou-se um programa de pesquisa para melhorar a tecnologia de criação de larvas de dourada, obtendo-se bons resultados em termos de crescimento e sobrevivência.
Em 2010, uma fazenda experimental piloto de tilápias em Tumbak, Alkhor, sob a admisnitração do departamento de pesca começou a funcionar. A maioria das fazendas privadas são pequenas e estão localizadas na costa sudoeste, seguindo métodos de cultivo semi-intensivo de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), a espécie mais cultivada. A capacidade de produção anual é cerca de 40 toneladas. O método de cultura semi-intensivo é praticado pelo setor privado, utilizando tanques escavados (10 x 20 x 1 m) e tanques de concreto (3 x 10 x 1m).
Existem planos para o peixe espinhento-de-mancha-branca (Siganus canaliculatus), dourado (Acanthopopagrus latus), a garoupa (Epinephelus tauvina) e robalo (Lates calcarifer), este último já cultivado com tanques redes no golfo pérsico com sucesso.
A empresa Samkna Fish é um exemplo do crescimento da aquicultura do Catar. Com cerca de 900.000 metros quadrados de área produtiva e localizada a cerca de 50 quilômetros da costa, a empresa tem capacidade para produzir 2.000 toneladas de robalo por ano e pretende duplicar esse volume até ao final de 2022. Nos seus tanques rede, a alimentação e armazenamento de ração é totalmente automatizada por meio de uma embarcação especial (barcaça de elevação flutuante) e conta com até 70 funcionários especializados para sua operação.
A aquicultura no Catar é relativamente recente, possui forte investimento governamental e seu objetivo principal é a segurança alimentar da sua população. Embora com volume de produção ainda tímido, seu território desértico (inviável para a agricultura) e sua proximidade com o golfo pérsico permitiram que o país investisse em cultivos tanto em terra como no mar. O rápido crescimento do setor, a diversificação dos seus sistemas de produção e investimento constante em novas espécies focadas para produção de alimento foram um golaço da aquicultura no país.
Fonte: © FAO 2022. Catar. Texto de Falamarzi, M.. Divisão de Pesca e Aquicultura [online]. Roma. [Citado segunda-feira, 14 de novembro de 2022].