Como para qualquer ser vivo, a alimentação é um dos quesitos mais importantes no desenvolvimento de peixes em cativeiro. Está entre os principais fatores responsáveis pela saúde e bem-estar da criação, sobretudo no início da vida, quando, ainda bastante frágeis, os alevinos passam, em geral, por uma delicada fase até atingir a idade adulta. Muitas espécies de peixes, sejam ornamentais ou para consumo, necessitam de alimentos variados para estimular o crescimento e a reprodução, além de rações industriais. Alguns, inclusive, devem ser vivos. No caso, o camarão-de-salmoura (Artemia franciscana) é uma boa opção para atender à nutrição de peixes durante o manejo. Dotado de muita proteína, sais minerais e vitaminas A e B, o microcrustáceo é bem-aceito pelo mercado, sendo para quem o vende uma fonte de renda garantida.
O camarão-de-salmoura conta com uma ampla demanda, pois serve de alimento vivo para peixes criados em aquários, tanques escavados, lagos, açudes e até represas. A capacidade de sobreviver em ambiente de água doce, além de seu hábitat natural em meio salgado, permite que o minicrustáceo seja refeição apreciada por diversos pescados.
Alevinos, peixes novos e mais velhos são consumidores das larvas – ou náuplios –, enquanto os exemplares adultos, com mais biomassa e 20 vezes mais pesados, fazem parte da dieta de peixes grandes e de animais invertebrados aquáticos. Com a quantidade de provitamina A que contém no organismo, o camarão-de-salmoura tem importante função na prevenção contra a incidência de raquitismo. Também, por possuir caroteno, é responsável por tornar mais viva a cor dos peixes.
Possível de ser criado até em quintais de residências e em locais de pouco uso ou mal aproveitados em sítios e chácaras, o microcrustáceo cresce rapidamente. Após a eclosão, em 15 dias atinge o comprimento para a venda, que varia de 8 a 10 milímetros. Há condições de produzir de 1,5 a 2 quilos de camarão-de-salmoura a partir do manejo de 5 mil náuplios por litro.
O camarão-de-salmoura pode viver por vários meses e ter cores variadas, passando do vermelho-claro, ao rosa, cinza e castanho, dependendo do que ingere e da composição da água. Quanto menos oxigênio no ambiente, mais intenso é o tom vermelho da criação, que se alimenta de nutrientes coletados e filtrados por meio de cílios muito finos dos apêndices, membros do corpo encontrados nas 11 patas instaladas no tórax.
Mãos à obra
>>> INÍCIO O camarão-de-salmoura é vendido em lojas especializadas em aquariofilia. Para iniciar a atividade, pode ser adquirido como cisto (ovo) prestes a eclodir; exemplar vivo, cujo preço, no entanto, é muito alto, dificultando a comercialização; ou congelado, considerado a alternativa mais prática e fácil.
>>> estrutura Preencha um aquário de 80 x 50 x 30 centímetros, ou uma caixa d’água de 300 litros, com água do mar. Como opção para salgar a água de torneira, adicione a cada litro uma colher de sal grosso sem iodo (sal marinho). Até que fique opaca, dissolva nela pó de pedaços de coral moído. Para alimentar o camarão-de-salmoura e oxigenar a água, é necessário que surjam muitas microalgas no ambiente aquático, processo que ocorre em local onde há bastante incidência de raios solares.
>>> ambiente Se não houver exposição suficiente ao sol, recomenda-se recorrer à compra de lâmpadas específicas no varejo agropecuário. Apesar de tolerarem a faixa de 18 ºC a 40 ºC, o ideal para a proliferação do camarão-de-salmoura é manter-se em temperatura entre 25 ºC e 30 ºC. Com uso de bicarbonato de sódio ou ácido clorídrico diluído, pode-se regular para mais ou para menos, respectivamente, a acidez da água até chegar ao pH 8.
>>> Cuidados Primordial para o bom desenvolvimento da atividade, a oxigenação da água pode ser estimulada com o uso de aeradores elétricos dotados de pedras porosas. Também é importante não exceder na alimentação, pois, se for exagerada, as sobras que permanecerão na água tendem a reduzir o nível de oxigênio no ambiente. Quando afundam, ainda contribuem para a decomposição dos microcrustáceos. Mantenha a água sempre limpa, limpando o fundo do local de criação de dois em dois dias. Indica-se trocar 20% da água uma vez por semana.
>>> alimentação As microalgas reproduzidas no aquário são boa fonte de alimentação para o camarão-de-salmoura. Podem ser fornecidos também fermento biológico, levedo de cerveja, pó de arroz, farinha de trigo, farinha de soja, farinha de aveia, entre outros alimentos inertes e de textura fina. No varejo especializado, são vendidos produtos especialmente para os microcrustáceos.
>>> reprodução Embora o camarão-de-salmoura seja bom reprodutor e multiplique a população em poucas semanas, algumas condições são necessárias. Em água com baixa salinidade e com adequado volume de alimentos, as fêmeas fertilizadas chegam a produzir até 75 cistos ou náuplios por dia. De um a dois dias após contato com a água, mais de 90% dos cistos atingem a eclosão. Ressalte-se que a taxa elevada está diretamente ligada à qualidade da criação. As larvas, que nascem com 0,5 milímetro de comprimento nadando livremente, chegam à fase adulta em uma quinzena, quando já podem ser coletadas. Com a ajuda de um puçá de 1 milímetro de abertura, retire os microcrustáceos do aquário. Lave-os, para retirar a camada de sal, antes de introduzi-los como alimento para outros peixes.
Raio x
Criação mínima:
5 mil náuplios por litro em tanque de 300 litros
Custo: o quilo de adultos congelados oscila entre R$ 25 e R$ 50
Retorno: vendas iniciam quando adultos, fase atingida 15 dias após a eclosão
Reprodução: 250 mil náuplios são gerados de 1 grama de cisto de boa qualidade
*Vinicius Ronzani Cerqueira é doutor em oceanografia biológica, professor titular de piscicultura marinha da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Onde adquirir: podem ser comprados em lojas de artigos relacionados a aquários
Mais informações: em universidades que possuem cursos no setor de pesca
Fonte: http://revistagloborural.globo.com