De crescimento rápido e possível de ser criada com outros peixes, o que reduz custos, a espécie – difícil de ser fisgada – é destaque em pesqueiros
Pelo formato da cabeça, maior em relação aos peixes de sua espécie, a carpa-cabeça-grande (Hypophthalmichthys nobilis) foi assim batizada. No entanto, entre os pescadores e profissionais do setor, é conhecida pelo apelido “cabeçuda”.
Pela possibilidade de ser criada em policultivo e pelo interesse que desperta por parte dos pesqueiros, é um peixe importante para o produtor rural que planeja iniciar sua criação.
A possibilidade de dividir o espaço em açudes, tanques ou viveiros com diferentes espécies de carpas e outros peixes faz da cabeçuda uma criação com vantagem na redução de custos.
Difícil de ser fisgada e ativa mesmo em épocas mais frias, quando peixes tradicionais diminuem a procura por alimentos, é alvo de comercialização de estabelecimentos de pesque e pague, que querem manter o fluxo de clientes durante o inverno.
A carpa-cabeçuda tem crescimento veloz, tornando rápido o retorno do investimento do criador. Em um ano de vida, o peso de um exemplar pode chegar a 1 quilo. Em pesqueiros, não é difícil encontrar espécies com 40 quilos, potencial de engorda que pode ser considerado nos cálculos de formação dos preços de venda do produtor.
Mas, para um desenvolvimento vigoroso, é preciso que o criador mantenha uma boa produção de alimento natural no viveiro. O fundo dos viveiros deve ter uma oferta rica de fitoplâncton (algas) e, sobretudo, de zooplâncton (pequenos animais), as refeições prediletas que a espécie consome por meio de seus vários filamentos branquiais, usados como filtros d’água por onde passa.
A qualidade da água também é muito importante para a saúde da criação. A origem pode ser de nascentes e riachos, desde que a fonte seja conhecida e livre de contaminação. Para uso de estruturas existentes, deve-se drenar totalmente o lago, açude ou viveiro da propriedade rural e retirar os predadores naturais.
Um especialista pode ajudar na hora de determinar a quantidade de peixes para utilizar no repovoamento. Essa densidade está relacionada com o tamanho do lago e a vazão de água. Normalmente, quanto mais água, mais peixe pode ser estocado. Se o volume for insuficiente, a dica é diminuir a densidade de peixes, para conhecer a capacidade de suporte do açude ou ainda transferir água de outro lugar.
O cultivo comercial se desenvolve melhor em viveiros escavados e dimensionados em projeto técnico que, comumente, também leva em consideração a disponibilidade de água, o que determina o número e o tamanho dos viveiros. Antes de iniciar a construção, o produtor deve solicitar autorização dos órgãos ambientais para implantação do projeto.
>>> INÍCIO Verifique se a região onde se pretende instalar a criação oferece viabilidade econômica à atividade. Pesqueiros são os principais clientes do produtor de carpa-cabeçuda. Após preparar os viveiros, adquira os alevinos. O preço do milheiro pode variar de R$ 150 a R$ 350, dependendo do tamanho deles. Prefira adquirir alevinos com, pelo menos, 10 centímetros de comprimento, pois a mortalidade será menor.
>>> AMBIENTE A temperatura ideal para o crescimento da carpa-cabeçuda é de 24 ºC. As carpas gostam de água com 1 a 2 metros de profundidade e, em ambiente natural, que haja vegetação nas margens.
>>> VIVEIROS Ou açudes podem ser construídos em solos argilosos, utilizando sistemas de esgotamento total e abastecidos por canaletas a céu aberto, que transportam a água por gravidade na quantidade equivalente a 10% do volume total do tanque por dia. Os viveiros de alevinagem devem ter entre 100 e 200 metros quadrados; os de engorda entre 2.000 e 5.000 metros quadrados; e os de reprodução, no mínimo, 50 metros quadrados, sendo a densidade de estocagem de uma fêmea para cada dois machos a cada 5 metros quadrados.
>>> SISTEMAS O extensivo aproveita o açude existente na propriedade. Tem produtividade de 3 a 7 toneladas por hectare ao ano e pode-se desenvolver o policultivo. Permite que o produtor use apenas o alimento natural proveniente da adubação. O semi-intensivo demanda viveiros escavados e dimensionados de acordo com o fluxo de produção. A produtividade é maior, com variação de 4 a 10 toneladas por hectare ao ano. Como o uso de ração é necessário, precisa-se de capital de giro mais elevado. Os investimentos para implantação podem chegar a R$ 30 mil por hectare. A densidade de estocagem é de 0,5 a 2 peixes por metro quadrado.
>>> ALIMENTAÇÃO Indica-se ração comercial para peixes com 24% a 28% de proteína bruta. Deve ser fornecida durante o ano inteiro, principalmente no sistema semi-intensivo e em períodos com temperaturas amenas.
>>> ÁGUA Faça monitoramento da temperatura, cor, transparência, pH, oxigênio dissolvido, amônia total e amônia não ionizada, a fim de evitar o estresse dos peixes.
>>> REPRODUÇÃO A natural pode ocorrer em açudes no fim do inverno ou início da primavera. O melhor período para acasalar é entre dois e cinco anos, mas já estão aptos após o primeiro ano de vida. Uma fêmea de 1 a 2 quilos pode produzir até 100 mil óvulos e registrar três desovas por ano. Coloque abrigos para que os ovos aderentes sejam fixados em plantas aquáticas, galhos de ciprestes secos ou cordas de nylon desfiadas (kakabans). Produtores profissionais injetam nos reprodutores hormônios oriundos da própria hipófise, possibilitando o controle da produção de alevinos.
Criação mínima: um milheiro
Custo: o preço do milheiro oscila entre R$ 150 e R$ 350
Retorno: a partir de um ano
Reprodução: entre 2 e 5 anos de idade é o melhor período
*Nilton Rojas é pesquisador científico do Instituto de Pesca, Caixa Postal 1052, CEP 15025-970, São José do Rio Preto (SP), tel. (17) 3232-1777, niltonrojas@pesca.sp.gov.br
Fonte: http://revistagloborural.globo.com