O Tambaqui é um dos peixes mais consumidos na mesa dos amazonidas da região ocidental. Em Rondônia, Amazonas e Roraima é tido como comida típica. Assado, frito ou em caldeirada, o tambaqui é sempre uma boa pedida. Além da culinária, as pesquisas com a espécie são constantes, em prol de melhoramentos, e não é a toa que dois híbridos estão ganhando espaço no mercado, a tambacu e tambatinga.
O peixe híbrido é aquele desenvolvido pelo cruzamento de espécies diferentes. Segundo o professor doutor em Biologia Aquática e Pesca Interior pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Heitor Martins Junior, o processo é chamado de hibridização e raramente acontece na natureza.
“Este processo raramente pode ocorrer na natureza pois as espécies possuem mecanismos de isolamento para garantir a sobrevivência da espécie. No desenvolvimento de um peixe híbrido geralmente utiliza-se três tipos de hibridização, aintraespecífica, onde faz-se entre indivíduos da mesma espécie, mas de variedades diferentes; ainterespecífica, que ocorre entre espécies diferentes, mas do mesmo gênero; e, a intergenérica, que acontece entre espécies de gêneros diferentes, como no caso do híbrido entre os peixes redondos como o tambaqui (Colossoma macropomum, fêmea) e o pacu (Piaractus mesopotamicus, macho), denominado de tambacu. E também entre o cruzamento do tambaqui (Colossoma macropomum, fêmea) e da pirapitinga (Piaractus brachypomus, macho), que gera o híbrido denominado de tambatinga“, aponta.
Segundo o pesquisador, o mercado agrícola é motivador da produção de híbridos, pois uma ou as duas espécies genitoras pode transferir características desejáveis e vantajosas ao híbrido desenvolvido.
“A justificativa para o desenvolvimento de um peixe híbrido para a criação em piscicultura são diversas e entre elas posso destacar: a produção de um peixe com maior taxa de crescimento ou ganho de peso e diminuir o tempo de engorda, diminuição da exigência nutricional, aumento da quantidade ou melhorar a qualidade de carne, aumento da resistência a certas condições ambientais, como: salinidade, temperaturas altas ou baixas e baixos teores de oxigênio dissolvido, obtenção de indivíduos mais dóceis (menos agressivos) e aptos ao manuseio comum na piscicultura, redução de canibalismo em formas jovens, obtenção de populações monosexo sem a utilização de hormônios e aumento da resistência a doenças e patógenos“, disse.
Conheça o Tambacu
O híbrido tambacu é o resultado do cruzamento de ovócitos de uma fêmea do tambaqui (Colossoma macropomum) e o sêmen do macho de pacu-caranha (Piaractus mesopotamicus).
Segundo o professor Heitor, o peixe representa a primeira produção de híbridos interespecíficos de peixes nativos no Brasil que envolvem matrizes de bacias hidrográficas distintas, o tambaqui endêmico da bacia Amazônica, e o pacu, endêmico da bacia do Prata (rios Paraná, Paraguai e Uruguai).
“Especificamente o híbrido tambacu foi desenvolvido para apresentar uma combinação da resistência a baixas temperaturas do pacu com o crescimento rápido do tambaqui. Em função das características adquiridas, o tambacu vem sendo produzido principalmente nos estados de temperatura mais baixas (Sudeste e Centro-Oeste) e apresentam maior sobrevivência e crescimento mais uniformidade“, disse.
Tambacu, cruzamento da fêmea do tambaqui (Colossoma macropomum) com macho de pacu-caranha (Piaractus mesopotamicus). (Foto:Divulgação/Piscicultura Dal Bosco)
Entre as características do tambacu estão:
– Cabeça menor do que o tambaqui;
– Um pouco mais de carne;
– Teor de gordura mais baixo que suas espécies genitoras;
– Em termos de sabor, não há percepção pelos consumidores;
– O tambaqui é o único peixe com a nadadeira adiposa preenchida com pequenas escamas e apresenta espinhos ou raios nesta nadadeira. O híbrido tambacu apresenta esta nadadeira lisa, sem escamas e de forma lobada;
– Mudança do padrão de coloração também muda;
– O tambacu, normalmente, apresenta uma marcação mais amarelada na parte ventral corpo e nas nadadeiras ventrais.
– O tambacu parece ser mais redondo que o tambaqui, pois o pedúnculo caudal (região da porção final do corpo junto a nadadeira da cauda) é levemente reduzido.
No universo científico e produtivo, o mercado aquícola nacional tem motivado a produção de híbridos, pois uma ou as duas espécies genitoras pode transferir características desejáveis e vantajosas ao híbrido desenvolvido.
Conheça a tambatinga
Assim como o tambacu, a tambatinga é um peixe híbrido, obtido pelo cruzamento entre os ovócitos de uma fêmea de tambaqui e o sêmen de um macho de pirapitinga (Piaractus brachypomus).
De acordo com o pesquisador, atualmente, o híbrido tambatinga é mais produzida que o tambacu no Estado do Pará, perdendo apenas em produção para tambaqui.
“ A produção desse híbrido tem a preferência dos piscicultores da região Norte do Brasil devido ao melhor desempenho produtivo. Os produtores afirmam que a tambatinga cresce mais que o tambaqui e o tambacu. Além disto a tambatinga, apresenta cabeça menor que o tambaqui e o tambacu, o que lhe confere um melhor rendimento de carcaça, ou seja, tem mais de carne e rendimento de filé em relação ao tambaqui e ao tambacu“, pontua.
Confira seis híbridos amplamente utilizados na piscicultura brasileira e também os principais cultivados no Estado do Pará, bem como suas características de interesse:
Tabela adaptada de “Riscos Genéticos da Produção de Híbridos de Peixes Nativos”, Anderson Luis Alves, Eduardo Sousa Varela, Giovanni Vitti Moro e Luciana Nakaghi Ganeco Kirschnik – Palmas: Embrapa Pesca e Aquicultura, 2014.
Fonte: https://www.aquaculturebrasil.com/