A chegada da aposentadoria deu ao engenheiro civil aposentado Aidson Ponciano, hoje com 70 anos, o tempo necessário para dar impulso à criação de uma fábrica de bolsas e sapatos de couro de peixe e fibras naturais em Manaus (AM).
Ponciano começou a produzir as peças em 1998, depois de deixar o emprego. A fabricação da Green Obsession, que começou de forma informal, cresceu e hoje os produtos conquistam os turistas da capital amazonense e são exportados para Canadá, Estados Unidos e países da Europa.
Segundo o empresário, os anos de vida ajudaram a superar os desafios de empreender. “A vivência traz mais segurança e ajuda na administração do negócio. No passado eu tinha outro pensamento e não sei dizer se teria coragem de largar o emprego para empreender.”
Inicialmente, ele produzia informalmente peças em couro convencional e fibras naturais, mas para dar um diferencial aos seus produtos começou a trabalhar com o couro de peixe.
Em parceria com o INPA (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia), que já desenvolvia pesquisas com a pele do peixe, o empreendedor passou a confeccionar as primeiras peças com o couro do animal. Em 2000, formalizou o negócio e entrou de vez no mercado.
Passatempo virou negócio lucrativo
Ponciano percebeu a oportunidade de negócio quando confeccionava apenas alguns exemplares para a filha, na época apresentadora de TV em Manaus, exibir em seu programa. As amigas da filha e os próprios telespectadores gostaram das peças e faziam pedidos constantes ao empresário.
“No começo, eu não tinha a pretensão de transformar isso em um negócio. Com os pedidos crescentes, passei a produzir em escala maior.”
Mesmo em um negócio que nasceu de um passatempo, o engenheiro aposentado não deixou de fazer o plano de negócio. Ponciano fez uma pesquisa de mercado e descobriu que o seu produto teria uma baixa aceitação entre o público masculino, por isso decidiu focar suas vendas apenas no público feminino.
“As mulheres, normalmente, compram sapatos e os usam por pouco tempo até enjoarem, depois compram um novo par. Os homens, por sua vez, usam os mesmos sapatos até acabarem e só depois compram um novo”, afirma.
Confecção das peças é trabalho minucioso
Segundo Ponciano, trabalhar com o couro de peixe exige um cuidado muito maior do que com outros materiais. Cada espécie de peixe tem um desenho próprio nas escamas, por isso não podem ser utilizadas peles de diferentes espécies em um mesmo produto.
Além disso, o desenho das escamas tem formas diferentes ao longo do corpo do peixe. Para que o produto final fique com o design perfeito, o couro utilizado na peça inteira tem de pertencer à mesma região do peixe.
“O desenho das escamas perto da cauda é diferente do desenho próximo à cabeça. É um trabalho que demanda muito mais cuidado”, declara.
Como resultado deste trabalho minucioso, o preço do produto final fica mais caro. Porém, Ponciano garante a qualidade das peças produzidas. “O couro de peixe, por ser um material considerado exótico, é mais caro, mas dá uma aparência e uma textura diferentes às bolsas e aos sapatos”, afirma.
Empresa busca valorização da cultura regional e sustentabilidade
De acordo com o empreendedor, assim como as fibras naturais, o couro de peixe se tornou um produto típico da Região Amazônica. Produzir peças com este material também é uma forma de valorizar a cultura regional.
Outra preocupação do empresário é com a sustentabilidade. A pele do peixe, que seria descartada pelos frigoríficos, é reaproveitada.
Até mesmo as sobras do material no processo de confecção das peças são utilizadas para fazer artigos menores, como carteiras. “Quando transformamos este resíduo em produto, estamos ajudando o meio ambiente”, diz.
A fabricação das bolsas e dos calçados é artesanal. Mensalmente, são produzidas cerca de 150 peças. A empresa tem seis funcionários contratados e já fatura em torno de R$ 30 mil por mês, valor que aumenta durante o verão, quando os turistas, responsáveis por 90% das vendas da Green Obsession, visitam Manaus em maior número.
Fonte: economia.uol.com.br