Uma equipe de pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) determinou o tempo necessário para que o antibiótico sulfametazina (SMZ) seja eliminado do músculo (filé) da tilápia de cultivo (Oreochromis niloticus), principal espécie de peixe cultivada no Brasil. As análises determinaram que após o tratamento por 11 dias, o nível máximo de bioacumulação de SMZ em músculo de tilápia foi de 1,6 mg/kg. Em cerca de 15 dias o animal elimina praticamente a totalidade do medicamento do organismo e, em dez dias, já apresenta níveis aceitáveis pela Comunidade Europeia. Publicado em abril no periódico holandês Chemosphere, o trabalho recebeu destaque na imprensa especializada internacional (FeedNavigator, Aquahoy).
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Sonia Queiroz, uma das autoras da pesquisa, a SMZ é um fármaco não autorizado para uso veterinário em peixes no Brasil, por isso, o estudo oferece subsídios para o estabelecimento de políticas públicas de controle de drogas veterinárias não permitidas no País.
O objetivo da pesquisa foi avaliar a depleção dos resíduos do antibiótico SMZ em tilápia tratada com ração medicada. Após 11 dias de administração da SMZ, seguidos de uma fase de eliminação do organismo, foi calculado o período para atingir o limite máximo de resíduos (LMR). Conforme explica o pesquisador da Embrapa Claudio Jonsson, que também participou do estudo, esse nível é a concentração máxima de resíduo legalmente tolerada no filé. O valor é estabelecido pela Comunidade Europeia para todas as substâncias do grupo das sulfonamidas (no qual se enquadra a SMZ) e é equivalente a 0,1 mg/kg.
“Portanto, deve-se respeitar a dose de tratamento, assim como o período de eliminação para que a concentração decresça até o limite máximo de resíduo de 0,1 mg/kg, ou menos”, recomenda o pesquisador, na hipótese de o medicamento vir a ser registrado no Brasil para essa finalidade.
O pesquisador também chama a atenção para o fato de que os dados foram obtidos em temperatura experimental por volta de 26ºC e que em regiões mais frias pode ser necessário um tempo maior para a eliminação do medicamento. De acordo com o cientista, isso ocorre porque a temperatura da água influencia no metabolismo do peixe. “Também é importante dizer que a pesquisa somente oferece dados para tomadas de decisão e ela não muda a regulamentação vigente”, ressalta Jonsson, lembrando que a SMZ continua vetada para uso veterinário em tilápias no Brasil.
O método
Segundo Sonia Queiroz, os peixes foram expostos à SMZ por meio da ração medicada e os resíduos foram determinados por meio de método desenvolvido e validado no laboratório de resíduos da Embrapa Meio Ambiente. O método analítico criado deu origem a outro artigo científico publicado este ano na revista norte-americana Journal of Analytical Methods in Chemistry.
Caso o produto venha a ser autorizado para uso na piscicultura, a pesquisa demonstra a necessidade de o produtor conhecer o tempo necessário de dez dias para eliminação da substância até atingir o limite máximo de resíduo permitido pela Comunidade Europeia antes de abater as tilápias.
A piscicultura é um negócio que está em contínua expansão. Ela cresce mais rápido do que qualquer outra atividade de criação de animais para alimentação humana e a restrição de surtos de doenças é fator importante para o seu desenvolvimento.
Os sistemas de piscicultura se caracterizam por alta densidade populacional e usa ração formulada que pode conter antibióticos, antifúngicos e outros produtos quimioterapêuticos. Por isso, os dados sobre uso apropriado de medicamentos no tratamento de doenças são necessários para a atividade.
A utilização de substâncias antimicrobianas na piscicultura é um poderoso recurso que vem sendo aplicado em todo o mundo para garantir a saúde dos animais e uma maior rentabilidade da produção. Como consequência, a presença de resíduos de medicamentos em níveis acima do permitido em produtos animais pode oferecer risco à saúde humana.
Devido ao seu baixo custo e alta eficácia contra várias infeções bacterianas, as sulfonamidas pertencem a uma das classes de antibióticos amplamente usados para tratar doenças humanas, mas também na medicina veterinária, incluindo a piscicultura.
A administração oral dos medicamentos veterinários, por meio da ração medicada, faz com que o tratamento para peixes adultos seja relativamente fácil e barato. Por isso, esse método se tornou a principal maneira para medicá-los.
Tilapicultura cresce mais de 200% no Brasil
Entre 2005 e 2015, a produção de tilápia no País deu um salto de 223% com a modernização e a intensificação da produção, tanto em tanques-rede em reservatórios como nos viveiros escavados. No ano de 2005, a produção foi de 67.850,50 toneladas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Já em 2015, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calculou a produção da espécie em 219.329 t.
Esses dados foram reunidos durante a execução do projeto “Impactos socioeconômicos da tilapicultura no Brasil”, executado pela Embrapa Pesca e Aquicultura (TO) e parceiros, que visitou grandes polos de produção da espécie: Orós e Castanhão, no Ceará; Submédio e Baixo São Francisco, na divisa dos estados da Bahia, Pernambuco e Alagoas; Ilha Solteira, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul; norte e oeste do Paraná; e Baixo Vale do Itajaí, em Santa Catarina.
O clima favorável, a rusticidade da espécie, aceitando diferentes sistemas de produção; e a alta demanda dos produtos, além do bom resultado em cultivos intensivos, todos esses fatores contribuíram para alavancar a produção brasileira da espécie. A regulamentação do uso das águas públicas para cultivos intensivos de peixes em tanques-rede impulsionou o cultivo da tilápia, sendo a espécie responsável por 90% das solicitações de áreas aquícolas no País (veja texto completo)
Fonte: http://www.portaldoagronegocio.com.br