Espinhaço, pele com escamas e até o fígado são reutilizados por projeto desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) reutiliza restos de peixes para a criação de outros alimentos, suplementos alimentares e até cosméticos, em Manaus.
A pesquisadora responsável pelo projeto, Francisca das Chagas, explicou que os resíduos como o espinhaço, pele com escamas e até o fígado do peixe costumam ser descartados pelas pessoas, mas podem ser utilizados de diversas outras maneiras.
Para dar um novo fim aos resíduos, o projeto criou uma farinha que pode ser usada para fazer alimentos como pães e bolos, além de uma gelatina que pode virar suplementos alimentares e produtos cosméticos.
“Do fígado, nós preparamos a farinha. Ela pode ser utilizada em pó, ou encapsulada. Da pele, também pode ser feita a farinha. A farinha pode ser utilizada para fortalecer pães ou outros produtos de panificação, doces, bombons. Dos ossos e a pele, nos usamos para obter a gelatina”, explicou.
Chagas informou que a pesquisa já acontece desde de 2009 e é aplicada para a produção dos insumos para serem utilizados pelas pessoas, como ajudar quem tem deficiência de nutrientes e controle de doenças crônicas não transmissíveis.
“Ao longo dos anos, a gente vem dando essa aplicação. Procurando elaborar esses produtos que atuam sobre doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade, desnutrição, entre outras doenças”, afirmou a pesquisadora do Inpa.
Ainda segundo Chagas, a reutilização dos resíduos faz com que eles deixem de ser descartados pelas pessoas e ajudam a diminuir o impacto ambiental que uma poluição pelo descarte ilegal dos insumos no meio ambiente poderia causar.
Resíduos são ricos em nutrientes
Mas a aplicação dos resíduos para estas novas finalidades só é possível devido eles possuírem uma grande quantidade de nutrientes, segundo o pesquisador Jaime Aguiar, que também atua no projeto.
“Na gelatina de pele, a gente obteve 90% de proteínas. Na gelatina das espinhas, teve o valor de 80% de proteínas. Comparando esse teor proteico com outros mamíferos, a gelatina do nosso pescado da Amazônia tem um valor muito alto”, informou.
Aguiar explicou também que a região Amazônica costuma ser deficiente do nutriente ferro. Segundo ele, cada ser humano precisa ingerir cerca de 10 miligramas do nutriente por dia em seu corpo.
Na farinha obtida através de fígado de peixes, o pesquisador afirmou que é possível obter uma quantidade de 80 miligramas de ferro. Oito vezes a quantidade da substância encontrada em outros resíduos.
“Isso tudo é jogado fora pelas pessoas. Nada melhor do que a gente pegar esses resíduos e empregá-los na confecção de outros alimentos, em produção de farinha, de pães, bolos, juntar com a farinha de fígado de peixe, para aumentar o valor nutricional”, afirmou.
Projeto premiado
O projeto foi o vencedor da 4ª edição do Prêmio da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN Amazônia), em 2021, e recebeu a premiação de R$ 15 mil para incentivar ainda mais a iniciativa.
No total foram submetidas 12 soluções do Brasil, Venezuela, Peru, Itália e Equador abordando a temática “Soluções para uma nova bioeconomia Amazônica”. O projeto de reaproveitamento de resíduos de pescado do Inpa ficou em primeiro lugar.
“O projeto trás uma sobrevida para gente. Ganhar esse prêmio representa muito. É um reconhecimento do que a gente vem fazendo ao longo desses anos aqui no Instituto. Esse prêmio vem mostrar que a gente está no caminho certo. Aproveitando resíduos, minimizando o impacto ambiental e preocupado com a saúde da população do Amazonas”, disse a pesquisadora.