Avaliar como os peixes de água doce de regiões tropicais serão afetados pelo aumento da temperatura da água em resposta às mudanças climáticas globais é um dos objetivos do projeto Hot Fish, uma parceria do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Universidade de Carleton, em Ottawa, no Canadá.
O projeto é baseado na “Hipótese de Jansen”, criada em 1967, que sugere uma diferença na tolerância térmica entre organismos de regiões temperadas e tropicais, devido, principalmente, a menor variação na temperatura do ambiente nos trópicos.
A pós-doutoranda Dominique Lapointe, da Universidade de Carleton, especialista em Ecofisiologia de Peixes, explica que as espécies de regiões tropicais podem não sofrer esta tolerância térmica devido ao ambiente aquático ter poucas variações sazonais de temperatura.
“Isso pode ser comprovado pela observação da grande variação na temperatura corpórea desses organismos entre os períodos de inverno e verão nas regiões temperadas. Por outro lado, os peixes tropicais podem não ter desenvolvido uma ampla faixa de tolerância térmica, uma vez que eles habitam em corpos dágua que sofrem pequenas variações sazonais na temperatura”, afirmou Lapointe.
A pesquisadora relata que as mudanças climáticas podem ser potencialmente prejudiciais à manutenção do equilíbrio dos ambientes de água doce de regiões tropicais, como no Rio Negro, já que estes sustentam uma importante diversidade biológica.
Metodologia
Lapointe pretende utilizar a técnica de respirometria, que consiste na medição do consumo de oxigênio pelos peixes, para determinar as faixas de temperatura específicas à manutenção da atividade metabólica nesses animais, além de examinar os mecanismos fisiológicos e moleculares envolvidos com o estabelecimento das faixas de tolerância térmica nas espécies. O projeto também se propõe a oferecer melhorias à pesquisa com o uso de equipamentos e realização de treinamentos necessários.
No período inicial dos experimentos, um sistema com tanques foi construído no Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM), no Inpa, para análise de 60 peixes das espécies matrinxã e tambaqui.
Para cada uma delas, foram feitos três tratamentos diferentes com filtros mecânicos, químicos e biológicos. O primeiro consistiu em submeter os peixes à temperatura ambiente, o segundo à temperatura ambiente mais 2°C, e o terceiro à temperatura ambiente mais 4°C.
“Os peixes de regiões tropicais são provavelmente mais sensíveis a pequenas oscilações na temperatura do ambiente aquático, conforme demonstram relatórios prévios sobre mudanças climáticas”, disse. Além disso, as alterações climáticas em regiões tropicais podem colocar em risco a segurança alimentar humana.
Fonte: http://www.portaldoagronegocio.com.br