Nos dias 7 e 8 de março, aconteceu na sede da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas-TO) workshop com diversas instituições, públicas e privadas, que trabalham com aquicultura no país. Os objetivos centrais foram discutir e encaminhar parcerias para a execução do BRS Aqua, projeto de pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia na área que a Embrapa está coordenando e que conta como principal financiador o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além do banco, financiam a Secretaria Especial da Aquicultura e da Pesca (Seap), ligada à Presidência da República, e a própria Embrapa.
O projeto envolve diferentes aspectos de quatro cadeias produtivas da aquicultura: a tilápia, principal espécie de peixe produzida no país; o tambaqui, um dos peixes nativos com grande potencial de crescimento – já é o nativo mais cultivado no Brasil; o bijupirá, representante da piscicultura marinha; e o camarão, que vem logo após os peixes em termos de produção. Representantes públicos e privados de cada cadeia produtiva expuseram, durante o workshop, características das respectivas áreas de atuação.
Antônio Albuquerque é diretor técnico da Associação Cearense dos Criadores de Camarão (ACCC). Ele mostrou números de dois censos que foram feitos nas duas principais regiões produtoras do estado (Leste e Oeste). Segundo Antônio, há uma grande heterogeneidade no que se refere ao tamanho médio dos empreendimentos. Enquanto o Leste apresenta 74% de microprodutores, aqueles com lâmina d’água de até 5 hectares, a região Oeste possui cerca de 48% de produtores considerados médios, com áreas entre 10 e 50 hectares de lâmina d’água.
O surgimento do vírus da mancha branca, no segundo semestre de 2016, impactou a cadeia produtiva cearense, causando inclusive queda considerável na produtividade média das fazendas. Porém, de acordo com o diretor técnico da ACCC, os produtores têm inovado para conviver com essa doença.
Sobre a colaboração que o BRS Aqua pode dar para o desenvolvimento da cadeia produtiva do camarão na região, Antônio se mostra esperançoso. “Essa iniciativa da Embrapa de ouvir vários setores, incluindo outras cadeias produtivas, é muito positiva: fazer esse workshop pra que a gente internalize, discuta, entenda a capacidade de pesquisa desse projeto, que os pesquisadores entendam também que tipo de apoio o setor produtivo pode dar, quais são de fato as demandas que podem impactar positivamente a produção”.
Um dos que falaram sobre tambaqui foi Andrey Costa, gerente de Pesca e Aquicultura do Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Tocantins (Ruraltins). Ele apresentou resultados parciais de um censo que está sendo realizado junto aos piscicultores do estado. Segundo Andrey, todos os 139 municípios tocantinenses têm piscicultura. A região Sudeste do estado continua como a principal nessa atividade: “Só no município de Almas, que concentra os dois grandes frigoríficos (Tamborá e Piracema), a gente teve uma produção anual em 2017 de 8.000 toneladas de peixe. É o maior polo de produção do estado”.
O gerente do Ruraltins acredita que os apontamentos do censo, que deve ser finalizado e apresentado nos próximos meses, vão colaborar para o BRS Aqua. “O que o censo vem trazer é identificar e analisar os arranjos produtivos locais, onde realmente esses núcleos de produção estão concentrados”. Ele acredita que, sabendo onde estão e quais são as demandas reais desses núcleos de produção, o projeto liderado pela Embrapa poderá ajudar a solucionar questões que ainda travam o desenvolvimento da cadeia produtiva do tambaqui no Tocantins.
Tilápia e bijupirá – O Paraná é o maior produtor brasileiro de peixes, com 112.000 toneladas no ano passado. O país produziu mais de 691.000 toneladas em 2017; os números são da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR). Danilo Muehlmann é veterinário do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR) e falou no workshop sobre a tilápia, principal espécie produzida hoje no país.
De acordo com ele, há uma diferença no que se refere aos sistemas de produção entre as duas principais regiões produtoras do estado: enquanto no Oeste paranaense, a maior parte dos produtores usam viveiros escavados – também chamados viveiros de terra –, na região Norte há um equilíbrio entre esse sistema e o de tanques rede. Uma característica é que “a piscicultura no estado do Paraná se caracteriza, basicamente, por ser uma atividade feita em pequenas unidades, tanto em viveiros de terra como em tanques rede”, segundo Danilo. As áreas consideradas grandes para a produção são poucas e pontuais.
O veterinário da Emater-PR conta ainda que “a grande produção e a rápida evolução que ocorreu na produção de peixes no polo Norte foram através dos tanques rede utilizando-se as águas públicas das barragens localizadas no rio Paranapanema”. Existe uma expectativa com relação à efetiva produção em tanques rede no reservatório de Itaipu. Danilo explica que “a produção de tilápia em tanque rede no polo de Itaipu já está autorizada. A licença ambiental é que está sendo renovada”.
Cláudia Kerber é produtora de alevinos de bijupirá em Ilha Bela-SP e falou sobre sua experiência com a espécie. Ela também traçou um panorama da produção brasileira de peixes em águas marinhas. Segundo Cláudia, “a piscicultura marinha no Brasil tem tropeçado. Já faz muito anos que a gente iniciou e ela não tem crescido da maneira como deveria. Isso tem várias explicações; uma delas é por conta da falta de políticas públicas para o setor que pudessem incentivar a atividade. O fato é que o Brasil tem mais de 8.000 km de costa, de águas tropicais, não é rota de furacão, são águas excelentes pra piscicultura marinha e a gente não tem conseguido evoluir”.
A produtora elogia a iniciativa da Embrapa ter inserido o bijupirá, espécie marinha, como uma das quatro cadeias produtivas foco do BRS Aqua e deposita confiança no projeto. “O fato de a Embrapa ter lembrado que estrategicamente para o Brasil isso (a piscicultura marinha) é um ponto muito importante nos deixa aliviados e esperançosos que, a partir da importância que tem a Embrapa pro agronegócio nacional, a gente vai conseguir estabelecer algumas políticas públicas que possam destravar o setor”, afirma.
Avaliação – Daniele Kloppel, da Embrapa Pesca e Aquicultura, lidera o chamado Projeto Componente (PC) de Transferência de Tecnologia do BRS Aqua. Ela foi uma das pessoas que esteve à frente do workshop e faz uma avaliação positiva do que aconteceu nos dois dias. “A gente realmente conseguiu que os nossos convidados entendessem o que esperávamos deles e, no final do evento, ficamos bastante felizes porque vimos que eles também conseguiram chegar às expectativas que tinham com relação à Embrapa. Então, a gente conseguiu fazer uma troca muita sinérgica”, explica.
Ela disse que houve discussões produtivas que poderão enriquecer o projeto durante sua execução e também negociações entre a Embrapa, como coordenadora do projeto, e os diversos parceiros. A quantidade de parceiros não está limitada aos que estiveram no workshop; é possível que outras instituições, públicas ou privadas, colaborem com o BRS Aqua, a exemplo dos parceiros que cada instituição que está começando o projeto já possui em suas respectivas regiões de atuação. Assim, vai sendo construída uma rede nacional de transferência de tecnologias nas quatro cadeias produtivas trabalhadas no projeto.
Como um dos próximos passos, será formatada uma carta de intenções. “Os representantes das instituições que vieram se mostraram muito interessados em levar isso adiante. A gente tem essa carta de intenções como um precursor dos termos de cooperação que a gente virá a firmar com esses parceiros e também com potencial de trazer outros parceiros”, relata Daniele. A expectativa agora é de que as intenções discutidas durante o workshop transformem-se, nos próximos meses, em contratos e termos de cooperação técnica que irão subsidiar ações e atividades de transferência de tecnologia em tambaqui, tilápia, bijupirá e camarão nos diferentes polos produtivos que serão trabalhados no Brasil.
Já Manoel Pedroza, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura, lidera o Projeto Componente que trabalha com a parte de Economia do projeto. Ele entende que “o workshop superou nossas expectativas com relação aos seus objetivos principais de apresentar o BRS Aqua, conhecer a situação atual das quatro cadeias produtivas e, sobretudo, consolidar parcerias com os representantes dos polos produtivos. Vale ressaltar que, apesar do workshop ter sido organizado pelos PCs Economia e Transferência de Tecnologia, todos os demais estavam representados e isso possibilitou a articulação de diversas outras parcerias além daquelas previstas pelos dois PCs organizadores do evento”.
O BRS Aqua vai até 2021 e está organizado por meio de oito Projetos Componentes. Além dos de Transferência de Tecnologia e Economia, há os de Gestão, Germoplasma, Nutrição, Sanidade, Tecnologia do Pescado e Manejo e Gestão Ambiental. O projeto tem em sua equipe cerca de 270 empregados de mais de 20 Unidades da Embrapa. A liderança é da pesquisadora Lícia Lundstedt, da Embrapa Pesca e Aquicultura.
Fonte: http://www.portaldoagronegocio.com.br/