CUIABÁ – Apenas conhecer peixes e saber produzir os animais em tanques-rede, reservatórios e barragens não basta; é preciso vender. E para vender, é necessário estar por dentro das tendências de mercado, das preferências do consumidor e tudo que isto implica para apresentar bem o produto e conquistar clientela. Peixes da aqüicultura ainda encontram certa resistência no mercado nacional. A cadeia produtiva de peixes tem muito para crescer e se desenvolver no país, especialmente quando se trata de espécies nativas de água doce.
O principal gargalo da piscicultura é gestão e está do lado de dentro da porteira, onde o produtor é o responsável. Esta é a avaliação de Eduardo Ono, engenheiro agrônomo e mestre em Aquicultura pela Universidade de Auburn(Alabama, Estados Unidos, pesquisador de tecnologias para produção intensiva de peixes nativos da Amazônia e co-autor de artigos técnicos e científicos de revistas e livros nacionais e internacionais sobre o segmento.
Ele foi um dos palestrantes, nesta quinta-feira(14), no Encontro de Piscicultores em Cuiabá, promovido pelo Sebrae em Mato Grosso em parceria com a Associação de Aquicultores do Estado de Mato Grosso (Aquamat) ), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Livramento. Cerca de 200 pessoas, entre piscicultores, fornecedores, estudantes e interessados em ingressar na atividade, participaram do encontro.
O evento foi realizado em Sorriso, na semana passada, e ocorrerá também em Tangará da Serra, nos dias 28 e 29 de maio. Amanhã, o Encontro de Piscicultores em Cuiabá terá como programação o dia de campo na Fazenda Medalha Milagrosa no município de Nossa Senhora do Livramento, que ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de produção de peixes e segundo no estadual. Poconé e Jangada estão em quarto e décimo lugares no mesmo ranking, segundo dados da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente a 2013, que foram divulgados em dezembro passado.
Eldorado
A piscicultura é também vocação produtiva de Mato Grosso, maior produtor de peixes de água doce do país, de acordo com a pesquisa do IBGE. Recordista nacional e mundial na produção de grãos, o setor do agronegócio é parceiro precioso da piscicultura, ramo que está apenas se iniciando em MT. Soja e milho são os principais insumos da ração de peixes . Grandes produtores de grãos estão ingressando na atividade.
Além disso, a vasta extensão territorial, a abundância de água, condições climáticas favoráveis e a rica biodiversidade mato-grossense (espécies da Amazônia, Cerrado e Pantanal) são vantagens competitivas que transformam o estado em um eldorado para a piscicultura.
Gestão
Da porteira para fora, a piscicultura deve se preocupar com fatores externos como qualquer outra atividade produtiva: mudanças na taxa de câmbio; aumento dos juros bancários; inflação; custo da energia; etc Para se tornar mais competitivo, é necessário reduzir o chamado custo Brasil e ser mais eficiente, disse Ono.
“Mas do lado de dentro da porteira, cabe ao produtor maximizar a eficiência”, enfatizou o especialista. “ Procurando formas de produzir melhor, reduzindo riscos e melhorando a eficiência da água e da terra, que ocupamos, e dos insumos”, explicou. Não adianta se preocupar apenas com a produção, se não houver vendas, insistiu.
“A grande maioria dos piscicultores já domina a produção. Há falhas na administração do negócio. É preciso ter um olho dentro e outro fora da propriedade”, aconselhou.
“Quem já vendeu e não conseguiu receber?”, desafiou a plateia. Se a venda é feita sem contrato, nota fiscal, não há mecanismo legal para fazer a cobrança, exemplificou. Fazer negócios de modo pouco profissional diminui a competitividade do segmento. Em tempos de crise, como atualmente, os calotes aumentam. “Se não profissionalizar, vai desistir da atividade”, disparou.
Até há pouco tempo, criava-se peixe em tanques e viveiros com mandioca e restos de alimentos e a qualidade era péssima. Por este motivo, muita gente se tornou resistente para consumir peixe da aqüicultura. Hoje, não é possível mais atuar assim. Há conhecimento, técnicas e rações apropriadas. O piscicultor tem de entender de ração, monitoramento da qualidade da água e de mercado.
Se o peixe adoece, pode ser sinal de que está sofrendo algum tipo de estresse. Se está gordo, é devido a alimentação inadequada. Desnutrição ou nutrição em excesso, manuseio incorreto e transporte descuidado podem prejudicar a competitividade do segmento. No final, tudo reflete a boa ou má gestão, de acordo com Ono.
Fonte: http://www.cenariomt.com.br