O Laboratório de Piscicultura Marinha (Lapmar) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) fez no início do mês de agosto o transporte de aproximadamente oito mil sardinhas criadas em cativeiro para os tanques redes alocados na Armação do Itapocoroy, Penha (SC).
Pioneiro nesta área, o projeto é realizado em parceria com a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), o Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul (CEPSUL), entre outras instituições, e com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC). Os peixes, da espécie sardinhas-verdadeiras (Sardinella brasiliensis), foram levados para barcos atuneiros, onde servirão como iscas-vivas para a pesca de atuns.
Desde 2010 já foram realizadas outras desovas, no entanto somente a partir desse momento foi possível obter um maior número, possibilitando a execução do primeiro transporte para os tanques rede no litoral norte do Estado de Santa Catarina. O Lapmar juntamente com a Univali são os responsáveis pela captura, maturação, reprodução e pela cultura de larvas de peixes, crustáceos e moluscos para reprodução.
O objetivo da produção desse tipo de peixe em cativeiro é diminuir as perdas da sardinha, o que acaba ocorrendo em grande quantidade quando realizada do modo natural. A pesquisa visa contribuir também com o processo de gestão pesqueira, por meio de técnicas de produção e manejo de isca-viva.
A vantagem da criação em cativeiro é ter um controle maior sobre a espécie. Em laboratório é possível ter juvenis o ano inteiro, enquanto no mar, com as restrições da legislação ambiental e condições climáticas, apenas em determinadas épocas a sardinha pode ser pescada. Sem as capturas no meio ambiente, os estoques naturais podem ser renovados. Esta é uma forma de buscar o uso sustentável do recurso e a manutenção das maiores cadeias de processamento industrial de pescados no Brasil.
Para Vinicius Ronzani Cerqueira, professor do Lapmar e coordenador geral do projeto na Capes, os resultados obtidos foram acima das expectativas. “Obtivemos um resultado muito satisfatório. Por ser a primeira vez que fazemos o transporte para os tanques rede alguns problemas surgiram, obviamente, mas apresentamos muito mais acertos. Vamos dar continuidade aos estudos para poder aperfeiçoar a técnica”, afirma.
Ainda não foi possível gerar dados que comprovem se os custos são mais baratos ao criar sardinhas artificialmente. Vinicius Cerqueira acredita que a produção em cativeiro seja até mais cara. Porém, os custos seriam compensados pelo controle sobre o peixe e pela diminuição no impacto ambiental.
Sobre o projeto
O Projeto Isca Viva envolve várias instituições e já existe desde 2005. Em 2009 começou a receber recursos da Capes/MEC, por meio de parceria com o Lapmar, que passou a dedicar-se ao estudo e desenvolveu, com sucesso, a metodologia para a reprodução de sardinha em laboratório.
Atualmente três profissionais da UFSC estão diretamente ligados ao Isca Viva:o engenheiro de aquicultura Caio Magnotti, a mestre em aquicultura pela UFSC, Fabiola Pedrotti, e o professor Vinicius Cerqueira, no cargo de coordenador. No Laboratório de Piscicultura Marinha, 12 alunos da graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado trabalham neste e em outros projetos de pesquisa. O professor Vinicius Cerqueira já orientou duas dissertações voltadas para o estudo da espécie produzida em cativeiro. Uma é a do aluno Herdras de Luna Pereira (http://www.tede.ufsc.br/teses/PAQI0274-D.pdf) e a outra é de Ricardo Shunji Takeuchi (http://www.bu.ufsc.br/teses/PAQI0319-D.pdf).
Fonte: http://www.portaldailha.com.br/