Matrinxã, pirarucu, tambaqui, aruanã, pacu…. belos e apetitosos, eles são apenas alguns dos peixes que compõem a vasta lista de opções existentes no cardápio do amazonense que tradicionalmente aprecia um bom peixinho. Mas, além de deliciosos, os peixes amazônicos também atraem os olhares de cientistas, estudantes e também de leigos que desejam conhecer um pouco mais sobre o habitat, hábitos alimentares e características das espécies de peixe da região.
Há seis anos, o biólogo Geraldo Mendes dos Santos apresentou um projeto de pesquisa junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no qual pretendia abordar a temática da produtividade e ciência com foco nas espécies de peixes mais vendidas em Manaus. “Esta era uma ideia antiga porque eu sentia falta destas informações para a sociedade e para a própria pesquisa científica”, conta o biólogo.
Projeto aprovado, o pesquisador foi a campo e durante um ano fez o levantamento do pescado vendido nas feiras de Manaus, tomando como locais de visitação duas feiras grandes, a da Panair e a da Manaus Moderna, duas feiras de bairro e outras duas de rua ou itinerantes.
Nas suas andanças, Geraldo dos Santos descobriu que em Manaus são mais de 53 grupos de peixes comercializados e que perfazem um total de 100 espécies. Mesmo representando um recorde da realidade da época em que foi realizada, a pesquisa conseguiu traçar perfis destas espécies com informações como a época da reprodução delas, tipos de alimentação dos peixes e hábitos.
Pelo ineditismo, a pesquisa acabou transformando-se em um livro intitulado “Peixes Comerciais de Manaus” que Geraldo assina com mais dois colegas de pesquisa, Efrem Ferreira e Jansen Zuanon. A primeira edição da obra foi publicada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis( Ibama) e ficou esgotada. A segunda, publicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) também esgotou e agora o livro já chega à sua terceira versão.
Geraldo conta que além do levantamento feito dos peixes, houve o cuidado de fotografar cada espécie para que os peixes fossem ilustrados no livro com a maior riqueza de detalhes possível. A obra também resume as principais características biológicas das espécies, enfatizando também no contexto da época, a importância de cada uma dentro da economia local. O livro também inclui a literatura existente relacionada ao assunto e também consegue conciliar o conhecimento científico ao adquirido pelo pescador e pelos vendedores de pescado.
Além do conteúdo científico, o livro também revela alguns fatos bem curiosos em relação aos peixes amazônicos. Geraldo conta que na época em que fez o levantamento nas feiras, o tambaqui comercializado ainda era o vindo diretamente da natureza porque ainda não havia a prática da criação do tambaqui em viveiros. O pesquisador comenta que atualmente, esta realidade é quase oposta: quase 100% do tambaqui encontrado nas feiras é oriundo da piscicultura e os da natureza são cada vez mais raros, quando encontrados geralmente já têm destino certo: restaurantes ou hoteis.
Outra constatação feita pelo biólogo foi de que o Tambaqui era a segunda espécie mais comercializada na época perdendo apenas para o Jaraqui.
Geraldo também conta que o Pirarucu já era uma espécie ameaçada, com baixa produção mas, mesmo assim, era possível encontrá-lo em todas as feiras. “ Claro que com preço distinto, acima dos praticados para outros peixes e com restrições e formas diversas de apresentação, como na modalidade de pirarucu seco”.
O pesquisador também verificou que as espécies secundárias como branquinha, aracu, pacu e outras eram mais vendidas nas feiras menores já as mais nobres eram encontradas com mais facilidade nas feiras mais estruturadas.
Um ponto interessante também revelado pela pesquisa é a de que “ a produção da feira retrata muito a condição da natureza”, nas palavras do próprio pesquisador. “ Já dava para sentir quais espécies estavam tendo menos oferta por conta da dificuldade em serem achadas próximas a Manaus”. A ocorrência cada vez mais rara de certas espécies, como o próprio Tambaqui também é reflexo das intervenções feitas na natureza como a poluição, barulho, lixo e desmatamento das matas próximas às margens dos rios. “ As matas são fontes naturais de alimentação destes peixes, tambaqui, sardinha, pacu, eles comem dos frutos que caem das árvores próximas aos rios . Se tiram as plantas, cortam as fontes de alimentação do pescado”, explica o biólogo.
Para o autor, o valor da obra está em apontar informações que podem ser usadas na elaboração de ações por parte de gestores ligados ao setor pesqueiro e também fornecer informações para estudiosos do assunto. “ O objetivo é divulgar, difundir este conhecimento para que as pessoas valorizem mais esta riqueza presente na nossa natureza, conheçam o que estão comendo e entendam a interação do peixe com o meio ambiente”, finaliza.
Fonte: http://acritica.uol.com.br/