Mapeamento inédito revela informalidade e expansão da piscicultura paranaense

Devido ao êxito alcançado na criação de tilápia, o Paraná foi selecionado como local para a execução do Ordenamento Territorial da Aquicultura. A iniciativa inédita visa realizar um diagnóstico abrangente, tanto ambiental quanto socioeconômico, da piscicultura paranaense.

O Paraná se destaca como o principal produtor e exportador de peixes de cultivo no Brasil, especialmente de tilápia. No ano passado, sua produção atingiu 213.300 toneladas, um aumento de 9,9% em comparação com 2022, segundo dados da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). Esse volume representa cerca de 24% da produção total do país, reforçando sua posição de destaque entre os estados produtores.

A liderança indiscutível dos paranaenses coloca o estado em uma posição de referência. Organizado em sistemas produtivos verticalizados e de integração pelas cooperativas agropecuárias, o modelo da atividade pode ser replicado em outras regiões do país, com adaptações necessárias, para impulsionar o crescimento da piscicultura nacional. “O Paraná é um exemplo paradigmático da piscicultura brasileira, destacando-se por sua cadeia produtiva altamente organizada, uma característica singular que não é encontrada em nenhum outro lugar do país, o que elevou a tilápia ao status de commodity”, exaltou a geógrafa e analista de Geoprocessamento da Embrapa Pesca e Aquicultura, Marta Eichemberger Ummus, durante o Inovameat, um dos principais eventos de proteína animal do Paraná, realizado em meados de abril em Toledo.

Benefícios do ordenamento territorial

Segundo a especialista, os benefícios do ordenamento territorial abrangem diferentes aspectos, entre eles redução de conflitos por diferentes usos do solo, identificação de possíveis sinergias com outras cadeias produtivas, mitigação dos riscos ambientais, sanitários e climáticos, além da análise da viabilidade econômica e ambiental das atividades, considerando custos e benefícios. “O ordenamento territorial também possibilita a identificação de áreas ou regiões propícias para a expansão da aquicultura, o estabelecimento de cenários para o seu desenvolvimento e o fornecimento de subsídios para o planejamento estratégico da atividade no Paraná, bem como contribui para a priorização de regiões produtoras e melhora a precisão nos processos decisórios relacionados à aquicultura”, elenca Marta.

Porque no Paraná?

Devido ao êxito alcançado na criação de tilápia, o Paraná foi selecionado como local para a execução do Ordenamento Territorial da Aquicultura. A iniciativa inédita visa realizar um diagnóstico abrangente, tanto ambiental quanto socioeconômico, da piscicultura paranaense. “O planejamento espacial de áreas aquícolas oferece uma série de vantagens à atividade, incluindo o aumento da produtividade e do retorno financeiro para os produtores, além de uma gestão mais eficaz dos riscos ambientais, econômicos e sociais. Para otimizar as políticas públicas, é fundamental compreender a complexidade dos elementos envolvidos na aquicultura, promovendo um processo participativo que englobe todos os stakeholders da cadeia de valor no estado do Paraná”, enfatizou a geógrafa.

Depois de mapear, com imagens de satélite, mais de 78 mil hectares de viveiros escavados para produção aquícola no Brasil, reunindo todos os dados em um sistema espacial de inteligência territorial estratégica para aquicultura, disponível no site da Embrapa Pesca e Aquicultura, a autarquia formalizou uma parceria com a Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (Umipi) do Oeste Paranaense e o Biopark Educação para execução do projeto em solo paranaense. “No banco de dados espacial podem ser encontrados informações sobre a localização das estruturas da cadeia produtiva, comunidades de beneficiamento de pescados, instituições de ensino em aquicultura, fábrica de ração para peixe, laboratórios, mapeamento de viveiros escavados no Brasil e dados coletados em campo por órgãos de defesa agropecuária, ambiental e de assistência técnica rural”, destacou Marta, orgulhosa do trabalho realizado.

De acordo com a especialista, o estudo foi motivado pela importância socioeconômica da piscicultura para segurança alimentar, em que 83% da produção de peixes no Brasil é realizada em áreas terrestres e pelos poucos estudos sobre zoneamentos da aquicultura realizada em áreas terrestres. Já o Paraná foi objeto da pesquisa pela disponibilidade hídrica, alta informalidade na produção (ambiental e sanitária) e pela verticalização da cadeia produtiva.

Durante o estudo, Marta diz que foi observado uma grande informalidade na atividade aquícola paranaense, bem como a expansão da atividade para outras regiões do estado, além do Oeste, que detém a maior produção. “Nem sempre a alta taxa de crescimento está associada a alta produção, porque pode ser que o crescimento aconteceu em um lugar em que não se produzia tilápia antes, no entanto, é preciso enxergar esses polos para regionalizar estas informações a fim de termos a capacidade de prever uma maior assertividade na criação de instrumentos jurídicos de políticas públicas”, afirma Marta.

Pesquisa

Para dar início ao estudo, as instituições convidaram profissionais dos principais elos da cadeia produtiva: produtores, cooperativas, representantes comerciais, fornecedores de insumos, agências de defesa sanitária, ambientais e de assistência técnica rural, associações e pesquisadores da Embrapa, do Instituto Federal do Paraná (IFPR) e da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) para uma oficina participativa, realizada em meados de novembro de 2023, para realizar o planejamento das ações, diagnóstico, prognóstico, articulação interinstitucional e implementação do ordenamento.

O processo de desenvolvimento do ordenamento territorial compreendeu quatro etapas distintas. Na primeira, foi realizado um levantamento abrangente das variáveis de produção, incluindo aspectos como qualidade da água, disponibilidade hídrica, tipo de solo, espaço produtivo, declividade, temperatura, amplitude térmica e altitude, infraestrutura e logística abrangendo rede elétrica, unidades de beneficiamento, centros urbanos, fornecedores de ração, acessos e estradas, assistência técnica, internet e fornecedores. Além de fatores intangíveis, como mercado consumidor, políticas públicas, acesso ao crédito, disponibilidade de mão de obra, rede de cooperativas, associações, universidades e tradição, também foram examinados.

Na segunda etapa, essas variáveis foram discutidas e validadas, enquanto que a terceira etapa envolveu a hierarquização das variáveis em uma plenária. E na quarta etapa as variáveis foram parametrizadas de acordo com as condições ideais, toleráveis, críticas e inviáveis. “No grau de priorização em cada uma das variáveis analisadas a qualidade de água, rede elétrica e mercado consumidor foram considerados os fatores mais importantes”, pontuou Marta.

Objeto de estudo

No âmbito da pesquisa acadêmica, o mapeamento e diagnóstico da piscicultura do Paraná é objeto de estudo do pesquisador de pós-doutorado da Unioeste, Bruno Aparecido da Silva: “O projeto é um trabalho pioneiro que tem a possibilidade de trazer resultados muito importantes para subsidiar políticas públicas voltadas à expansão da produção de tilápias no Paraná”

doutorado da Unioeste, selecionado por meio do edital da Fundação Araucária em parceria com Biopark Educação, Bruno Aparecido da Silva. “Esse é um trabalho pioneiro que tem a possibilidade de trazer resultados muito importantes para subsidiar políticas públicas voltadas à expansão da produção de tilápias no Paraná”, evidenciou.

Utilizando uma metodologia inovadora, foi desenvolvida uma técnica automatizada para extrair a localização precisa dos viveiros escavados, permitindo classificar as áreas de atividade aquícola e aquelas não destinadas a essa finalidade. “Este método pode ser replicado em todo o país, inclusive para outras áreas produtivas”, adiantou Silva.

Por meio da aplicação do Google Earth Engine, foi realizado o mapeamento dos viveiros escavados, revelando 42.369 unidades produtivas, com predominância de viveiros em área menor que cinco hectares e em formas mais circulares. Concentrados principalmente nas bacias hidrográficas dos rios Piquiri, Iguaçu e Paraná III, esses empreendimentos são majoritariamente compostos por 94% de pequenos produtores.

Além disso, a pesquisa revelou que 62% dos empreendimentos estão em áreas com declividade ideal, enquanto 37% enfrentam áreas com declividade crítica, e apenas 1% está em áreas inviáveis para a instalação de viveiros escavados. Aspectos como altitude, fundo de vale, tipo de solo e qualidade da água foram avaliados, junto com a proximidade de infraestruturas importantes, como rodovias, rede elétrica, centros urbanos, fábricas de ração e unidades de beneficiamento. “Ainda está prevista a complementação do estudo com a análise da capacidade de vazão das bacias hidrográficas, o acesso à rede elétrica e a coleta de dados de temperatura. Além disso, será finalizada a modelagem da aptidão à piscicultura em todo o estado do Paraná, com a divulgação dos resultados ainda em 2024”, afirma Silva.

Próximos passos

Próximos passos incluem a validação das classes finais de adequabilidade, a formação de redes e grupos de trabalho locais, a identificação dos principais sistemas de produção e graus de intensificação, bem como dos principais gargalos tecnológicos. “Serão propostas intervenções tecnológicas e de assistência técnica, além do desenvolvimento de instrumentos jurídicos para políticas públicas. Essas iniciativas visam aprimorar a gestão da piscicultura no Paraná e impulsionar seu desenvolvimento sustentável”, enaltece Marta.

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Fonte: https://opresenterural.com.br/