A borda em volta do Pantanal tem 217 mil quilômetros quadrados. Quando a vegetação nativa é retirada, a terra fica mais frágil e a chuva leva areia para o leito dos rios que vão entupindo a planície.
“Houve um avanço grande do desmatamento por conta das bordas. São duas frentes de impacto que a gente vê acontecer: a ocupação do planalto com a maior entrada de sedimentos e o próprio uso da terra dentro da planície”, explica o biólogo Carlos Padovani, da Embrapa Pantanal.
Metade da vegetação da bacia do Alto Paraguai já foi devastada. O encontro das águas ali não é um espetáculo de beleza, é um desequilíbrio.
A água barrenta do rio Sepotuba traz muita terra do planalto e joga tudo no rio Paraguai. O professor Aguinaldo Silva, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, acompanha, há uma década a mudança na paisagem. Ele coleta amostras e mede a quantidade de areia e terra na água.
Os rios pantaneiros mudam de curso. Mas o que deveria levar séculos, está acontecendo em pouco anos. No encontro dos rios Vermelho e Miranda, a barreira de sacos é pra segurar a correnteza está arrancando a terra e já ameaça a casa. Para os pesquisadores, é assim que o Pantanal pede socorro.
Com o frescor do amanhecer, a equipe do Globo Repórter sai para pescar. Mas é uma pescaria diferente. Vamos conhecer os peixes jardineiros. “Eles fazem a dispersão de sementes nas áreas alagadas. Essa interação peixe-planta ocorre no período de cheia em áreas alagáveis como o Pantanal e na Amazônia”, explica a pesquisadora Joisiane Araújo.
Mas o que acontece com os frutos que os peixes comem? Em busca de respostas, os pesquisadores pegam os animais e recolhem o material que eles têm no estômago e depois soltam de volta no rio. O pacu é um campeão. Ele nada pra longe e leva na barriga um jardim a ser semeado.
“Encontramos indivíduos com mais de 3.500 sementes inteiras, com uma diversidade de 14 espécies de plantas diferentes dentro dele. Então o pacu, pra gente é considerado o melhor dispersor que as outras espécies”, diz a pesquisadora.
Por isso, o regime de cheias e secas ajuda a manter vivo o Pantanal: nos campos alagados, os cardumes espalham sementes que vão brotar quando as águas baixarem. Assim, o ciclo da vida se renova.
Fonte: http://g1.globo.com