Pesca: Prática indiscriminada ameaça o atum e outros peixes nos oceanos

Pesca: Prática indiscriminada ameaça o atum e outros peixes nos oceanos A imagem de cardumes enormes cruzando oceanos será cada vez mais rara no futuro. Isso porque os estoques pesqueiros do planeta estão à beira do colapso e muitas espécies estão gradualmente desaparecendo.

Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) mostram que 57% do estoque dos peixes do mundo estão próximos do limite da extração sustentável e cerca de 30% estão superexplorados, correndo o risco de terem suas espécies extintas. Segundo o Greenpeace, 90% das populações dos grandes peixes predadores estão esgotadas.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Entre os peixes ameaçados é possível encontrar albacora, espadarte, badejo, lagosta, linguado, sardinha e anchovas, que estão com seus estoques em declínio. No Mar do Norte, o bacalhau praticamente desapareceu. Para especialistas, o atum é a bola da vez.

Associado à abundância nos mares, os cardumes de atum estão se esgotando rapidamente. O consumo do peixe aumentou nos últimos anos devido à procura por fontes de ômega-3. Desde 1950, estima-se que os estoques mundiais de tunídeos (família de atuns) diminuíram 90%, sendo que, segundo dados da FAO, em 2012, cerca de 4 milhões de toneladas foram retiradas do mar.

Os norte-americanos são os que mais consomem o atum em lata (24%), e os japoneses são os maiores consumidores do peixe fresco. No país oriental, um atum azul pode ser leiloado por até US$ 25 mil para ser usado na intensa produção de sushis e sashimis.

A maioria dos estoques de peixes do mundo sofre pressão constante da sobrepesca, ou seja, a retirada de peixes acima da capacidade de reprodução das espécies, principalmente pelo comércio em larga escala.

A atividade é realizada por barcos que usam alta tecnologia para detectar os cardumes e capturá-los em grande quantidade. Redes de arrastão do tamanho de campos de futebol são usadas no processo e chegam a acumular até 70 toneladas em apenas dois dias.

A pesca inadequada também provoca desperdício de alimentos. O uso excessivo das redes em alto mar capturam peixes de pequeno porte ou muitos novos, que ainda não se reproduziram e que são jogados de volta à água ou usados como iscas.

Três em cada dez peixes são mortos “por engano”. Para conseguir um quilo de camarão, por exemplo, são desperdiçados 10kg de peixes. Outros animais também são capturados acidentalmente nas redes como tartarugas, golfinhos, focas, pequenas baleias e tubarões.

Os peixes são fundamentais para a o controle do ecossistema marinho. A pesca excessiva dos grandes peixes elimina os principais predadores do mar e provoca o desequilíbrio da cadeia alimentar em diversos níveis tróficos. O atum, por exemplo, é um predador das águas-vivas que se alimentam de crustáceos e outros animais aquáticos.

Um estudo do Institut de Recherche pour le Développement (IRD), da França, indica que a pesca excessiva é um dos principais fatores que contribuem com a proliferação das águas-vivas, que trazem dificuldades para a pesca.

O Brasil tem 8,5 mil quilômetros de costa e a produção de pescado atingiu 2,4 milhões de toneladas. O consumo tende a aumentar. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos cinco anos o consumo médio de pescado cresceu de 9 para 14,5 quilos por habitante, volume pouco acima da recomendação mínima da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 12 quilos por ano.

A queda de peixes também provoca consequências sociais, principalmente em comunidades tradicionais ou ribeirinhas que vivem da renda da pesca. Algumas comunidades de pescadores artesanais são já vítimas da redução dos peixes nas águas. No Estados do Paraná e de São Paulo, o volume de pescados coletados pelos caiçaras durante a tradicional pesca da tainha tem diminuído consideravelmente nos últimos anos. Segundo o Instituto de Pesca de São Paulo, a produção pesqueira do Estado em 2011 foi a menor dos últimos 45 anos: cerca de 20,5 mil toneladas, 20% menos que há 10 anos e 60% menos que há 20 anos.

Para garantir que o oceano não fique vazio, a FAO alerta que é preciso racionalizar o consumo de pescados, estabelecer limites seguros para a exploração de cada estoque e proibir a pesca de espécies ameaçadas. Uma alternativa para o consumo é incentivar a atividade da aquicultura, as chamadas “fazendas marinhas”, que criam peixes em cativeiro. O salmão consumido no Brasil é proveniente de muitas dessas criações.

Além da sobrepesca, a contaminação provocada por poluentes químicos e as mudanças climáticas estão colocando em risco a biodiversidade marinha.

Fonte: http://vestibular.uol.com.br