No entanto, esse aumento no consumo está atrelado ao refinamento das exigências do consumidor, que hoje busca informações com propósito de obter produtos alimentícios com qualidade em toda a cadeia produtiva. Para atender essa necessidade, o setor produtivo e a comunidade científica têm direcionado esforços para adequar boas práticas de manejo voltadas tanto para as condições ambientais, ao controle de qualidade da água, da ração ofertada, da limpeza e manutenção do cultivo e das condições de sanidade dos animais. Um desses estudos, coordenado pelo professor Raul Machado Neto, do Departamento de Zootecnia (LZT) da ESALQ, envolve pesquisadores do Laboratório de Anatomia e Fisiologia Animal e do Setor de Piscicultura do LZT, este sob liderança do professor José Eurico Possebon Cyrino.
Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos e estudantes de iniciação científica trabalham, desde 2006, na análise da viabilidade da adição de colostro bovino liofilizado (CBL) como fonte protéica suplementar à ração de peixes endêmicos e neotropicais com diferentes hábitos alimentares. O foco do projeto são pacus e dourados, que apresentam dieta onívora e carnívora, respectivamente. “Já estudamos a importância do colostro para recém-nascidos caprinos, equinos, suínos e bovinos, mas à adição de colostro bovino na dieta de peixes é uma proposta inovadora”, conta professor Raul Machado.
O colostro – É a primeira secreção láctea produzida pelos mamíferos, constituindo uma mistura de secreções produzidas pela glândula mamária e de elementos originados no soro sanguíneo. “Trata-se de uma rica fonte de proteína de origem animal e peptídeos bioativos, excedente em regiões produtoras de leite, constitui-se em uma alternativa complementar a ser considerada para a nutrição de peixes, podendo vir a ser inovador quando acrescido como fonte parcial de proteína para espécies nacionais como o pacu e o dourado”, comenta a zootecnista Thaline Maira Pachelli da Cruz, autora da dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal em Pastagens (PPG-CAP) que estudou características do tecido intestinal dos peixes alimentados com dietas contendo colostro. Segundo o professor Raul Machado, o colostro é essencial para os animais domésticos, porque toda imunidade inicial vem dessa secreção láctea. “Nas regiões leiteiras, as vacas produzem uma grande quantidade de colostro e a utilização do excedente vem sendo estudado por pesquisadores para que possam transferir esse potencial de proteção para outros animais”.
Equipe – Uma das etapas do projeto esta sob responsabilidade da pós-doutoranda Dra. Débora Botéquio Moretti, que investiga o colostro como fonte de macromoléculas (no caso, a imunoglobulina G -IgG) marcadoras da absorção intestinal. Na iniciação científica, Jessica Pampolini (graduanda em Ciências Biológicas) e Mayra Maniero Rodrigues (graduanda em Engenharia Agronômica) realizam o trabalho de divisão de células no epitélio intestinal e atividade da lisozima no soro sanguíneo dos juvenis de pacu e dourado alimentados com colostro bovino, respectivamente. Também no PPG-CAP, doutoranda MSc. Wiolene Montanari Nordi está avaliando, em seu doutorado, a influência do fator bioativo IGF-I presente no colostro bovino liofilizado sobre as características do epitélio intestinal. “O colostro é rico em proteínas, principalmente as imunoglobulinas e fatores bioativos, como o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-I) e o seu armazenamento na forma liofilizada preserva a sua qualidade e características originais”, conta Thaline. Ficou por conta de orientados do professor José Eurico o auxílio logístico para a realização dos ensaios.
Em campo – Para coleta das informações, juvenis de pacu e dourado foram alimentados com três dietas experimentais contendo 0, 10 e 20% de colostro bovino liofilizado. O fornecimento de dietas contendo anticorpos bovinos possibilitará, através da determinação sérica de imunoglobulina G bovina, utilizar estas macromoléculas como marcadores biológicos da absorção intestinal, pois trata-se de uma proteína heteróloga e filogeneticamente distante dos peixes. Serão ainda investigados aspectos citológicos e morfológicos do epitélio intestinal, bem como a absorção do IGF-I. Com a proposta de avaliar o desenvolvimento dos tecidos entérico, muscular e hepático estão sendo analisadas as alterações da atividade de enzimas da parede intestinal, no conteúdo protéico e de nucleotídeos. O professor José Eurico comenta sobre a importância de buscar a melhor dieta ou alternativas de dietas para espécies tanto nacionais como as de origem estrangeira. “Não só para as espécies nacionais, definir dietas de alta eficiência nutricional para qualquer espécie é fundamental para reduzir os custos e aumentar a produtividade dos sistemas de piscicultura”. Sobre espécies endêmicas como pacu e dourado, a relevância na obtenção de informações sobre dietas e ainda mais aguda. “A importância é mais acentuada para as espécies nacionais porque o “corpo” de informações sobre que temos sobre elas é ainda incipiente, ou seja, qualquer pequeno avanço é considerável”.
Para chegar às informações assertivas sobre os níveis de inclusão do CBL e seus efeitos no comportamento dos peixes, a equipe do professor Raul Machado continuará mapeando as reações no intestino. “Queremos conhecer o mecanismo intestinal em sua plenitude, considerando todos os elementos que permitem avaliar as diferentes dietas fornecidas para diferentes espécies e que isso possa representar, ao final desse processo, esperamos contribuir para o estabelecimento de alternativas de melhor custo e eficiência para o produtor”, finalizou Raul Machado.
Fonte: http://www.portaldoagronegocio.com.br