Piscicultura em reservatório tem pouca influência nas emissões de metano

As emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes do setor agropecuário é hoje um grande tema em discussão, despertando no meio científico a necessidade de se conhecer práticas produtivas que sejam menos impactantes. A aquicultura não foge à regra e deve se dedicar a compreender como contribui no processo de mitigação das suas contribuições e como se encaixa dentre as demais cadeias produtivas.

O recente estudo publicado pela Embrapa em parceria com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revelou que atividades de produção de peixes em tanques rede no Reservatório de Furnas tem um impacto menor ao que se previa na influência de emissão de metano.

O estudo de caso mostrou que as emissões de CH4 são mais influenciadas pelas características dos reservatórios do que propriamente aquelas derivadas diretamente do sistema de produção de peixes. O principal impacto na emissão de metano foi associado mais especificamente à seca extrema, devido à redução da área alagada, que na região avaliada ocorre principalmente de julho a novembro, em conseqüência da estação seca e de crises recorrentes de água em períodos de estiagem.

Esse foi um fator importante para que os cientistas concluíssem que áreas de reservatório com padrões muito distintos de variações de profundidade ao longo do ano devem ser evitadas na escolha de áreas favoráveis para atividades de piscicultura.

Os pesquisadores também concluíram que para considerar a abordagem da aquicultura e sua influência sobre as mudanças climáticas, há necessidade da continuidade das pesquisas, uma vez que a busca por respostas convive com a ampla diversidade do sistema de produção aquícola e ainda com as distintas características biogeoquímicas dos reservatórios tropicais.

As amostras foram obtidas no período de agosto de 2013 a novembro de 2014, em uma área de controle sem produção de peixes e com áreas com piscicultura que variaram no seu volume de produção e foram realizadas no âmbito do Projeto Furnas e com continuídade no Projeto BRS-Aqua.

O estudo também teve apoio e acompanhamento da Secretaria Especial da Aquicultura e da Pesca da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Ineditismo do estudo traz informações vitais à cadeia

Conforme explicou um dos autores, o bolsista de DTI-A do CNPq, vinculado ao projeto BRS Aqua, Marcelo Gomes da Silva o estudo é inédito no Brasil e de grande importância para o entendimento do real impacto da criação de peixes em tanques rede. “Atividades agropecuárias como a bovinocultura tem sido muito cobrada devido à alta emissão de GEE. As informações sobre as emissões de GEE associadas à cadeia produtiva de peixes ainda são escassas e não permitem comparação com as principais cadeias produtivas de proteínas animais“.

Gomes ressalta ainda que a quantificação da emissão de metano obtidas neste estudo demonstram que fatores ambientais podem influenciar nas emissões de CH4 da criação de peixes em tanques rede.

Já a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Fernanda Sampaio, também autora do artigo e responsável na Embrapa pela articulação institucional de parceiros para a Rede Nacional de Pesquisa e Monitoramento Ambiental da Aquicultura em Águas da União, aponta que os dados obtidos são o início de uma série de levantamentos que ocorrerão nos diversos ambientes de produção, incluindo áreas marinhas com a malacocultura.

Ainda segundo ela, “os dados publicados já demostram a necessidade de conhecermos mais a fundo a dinâmica dos GEE na piscicultura em tanques rede e a possibilidade da aquicultura se apresentar como alternativa de produção de carnes com baixa emissão de carbono. Permitindo ainda que a aquicultura se inclua na Política Nacional sobre Mudança do Clima”.

Para a chefe adjunta de Transferência de Tecnologia da Embrapa Meio Ambiente, Ana Paula Packer, “a mínima influência da piscicultura em tanques rede é o ponto de partida de uma sequência de estudos que terão como objetivo mensurar a pegada de carbono da produção de proteína de peixe no Brasil. Para isso, é necessário o mapeamento das emissões de GEE, em função dos diferentes reservatórios existentes no país.”

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