Com um litoral de cerca de 8 mil quilômetros e alguns dos maiores rios do mundo, o Brasil poderia ser um dos maiores…
Com um litoral de cerca de 8 mil quilômetros e alguns dos maiores rios do mundo, o Brasil poderia ser um dos maiores consumidores de peixe do mundo. Mas não é: o consumo per capita nacional, de 9,7 kg por ano, é quase metade da média global, de 17 kg por habitante. Agora, as empresas nacionais do setor investem para tentar mudar esse quadro.
A M.Cassab, uma empresa focada principalmente na distribuição de produtos importados, entrou neste negócio em 2010, de olho nesse potencial de crescimento do consumo. A empresa começou a cultivar tilápias em 26 tanques-rede na represa Jaguará, no Rio Grande, no Estado de São Paulo. Como o peixe leva quase um ano para crescer, o produto chegou ao varejo no ano passado.
Hoje, a empresa produz 200 toneladas de peixe por mês (cerca de 2,5 mil tonelada por ano), mas pretende dobrar o volume no ano que vem. “O projeto total prevê uma produção de 1,6 mil toneladas de peixe por mês”, disse Silvio Romero Coelho, diretor da comercial da M.Foods, divisão de alimentos da M.Cassab.
Neste momento, a empresa vende apenas a carne in natura. No ano que vem, construirá um frigorífico em Rifaina (SP) e entrará no ramo de alimentos prontos, como hambúrguer e nugget de peixe. “Queremos aproveitar o máximo possível do produto. Só 30% do peixe é filé”, disse Coelho. A estratégia permitirá uma redução dos preços do pescado. “O brasileiro come pouco peixe porque o produto é caro no País”, afirmou.
No Brasil, os pescados representam 8% das proteínas consumidas, menos do que aves (40%), bovinos (39%) e suínos (13%). “É mais fácil comprar e preparar produtos de carne bovina e de frango no País”, disse Rosana Diniz, gerente de marketing da Nativ Pescados, criada em 2008 por Pedro Furlan, um bisneto de Atílio Fontana, fundador da Sadia. A Nativ tenta mudar essa regra com a oferta de pescados prontos para o consumo. “O consumidor não quer ter de limpar o peixe. Quer o produto pronto para colocar no forno”, disse Rosana.
A empresa investiu R$ 100 milhões para construir tanques em uma fazenda em Sorriso (MT), que hoje produzem entre 5 mil e 6,4 mil toneladas por ano de pescado. Neste ano, a Nativ deve faturar R$ 43 milhões, cerca de 40% mais do que no ano anterior. “Existe uma tendência do consumidor de procurar alimentos mais saudáveis. Isso deve elevar o consumo de peixes”, disse a executiva da Nativ.
O brasileiro consumiu 1,86 milhão de toneladas de pescados em 2010, um crescimento de 8% em relação ao ano anterior, segundo os últimos dados disponíveis do Ministério da Pesca e Aquicultura.
Tradição. Além das novatas, as marcas tradicionais no segmento de pescados tentam inovar para ganhar novos consumidores – e mercados. Só o segmento de pizzas resfriadas movimentou R$ 180 milhões entre janeiro e abril deste ano, segundo dados da consultoria Nielsen.
A Gomes da Costa, que está há 60 anos no mercado de enlatados e fatura R$ 800 milhões, lançou neste ano uma linha de pizzas e lasanhas de pescados, com sabores atum, sardinha e salmão, por exemplo. “Queremos lançar produtos inovadores e aproveitar a tradição da marca no ramo de pescados”, disse o gerente de marketing corporativo da empresa, Luis Manglano.
A catarinense Leardini segue estratégia semelhante. “O peixe in natura é commodity. É uma briga de preço. O nosso diferencial será nos produtos processados”, disse a gerente de marketing da empresa, Flávia Di Celio.
A Leardini, fundada em 1988, começou a vender empanados de peixe em 2001 e lançou em 2010 sua linha de pratos prontos. “Algumas receitas não deram certo e reformulamos todo o portfólio neste ano. Das 26 opções, 19 são novas”, disse Flávia.
Rocambole de peixe com molho de laranja não vendeu bem, por exemplo. Pratos com salmão e camarão têm uma aceitação melhor entre o consumidor brasileiro, segundo ela.
Fonte: http://estadao.br.msn.com