Eram 8h20, quando Maria Valdira Lemos, 60, num gesto rotineiro e cheio de alegria, espalhou ração nos três tanques de criação de peixes que tem com o irmão, Zeno dos Anjos Tavares, 48, no Sítio Nova Esperança, na margem direita do lago Cujubim, um lugar que reflete paz e muita fartura.
Ali, em dois tanques e um berçário, a família cria tambaqui, jatuarana e pirarucu, numa labuta diária que mistura trabalho e satisfação. Fora as outras atividades do sítio, onde também se cultiva cupuaçu, pupunha, tangerina, banana, macaxeira e açaí, a produção de pescado é a principal e mais importante fonte de renda da família, que garante também a sobrevivência dos demais projetos da propriedade, por enquanto incipientes.
Mas nem tudo é festa. Zeno lembra que no ano passado, durante a cheia do rio Madeira, o sítio ficou ilhado por quatro meses, em decorrência da precariedade da linha que dá acesso ao seu lote de 10 hectares. A estrada (Linha do Estudante) foi interditada em função dos atoleiros que se formaram com as chuvas, e nesse período de quatro meses não foi possível transportar a ração até o sítio, segundo informou o produtor, lamentando e descrevendo os prejuízos que sofreu.
Enquanto retirava o tambaqui da tarrafa, Zeno Tavares disse que quem visita o seu sítio nem imagina o trabalho que teve para montar tudo ali. Segundo ele, se não fosse a ação dos técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do governo de Rondônia (Emater), certamente não seria possível produzir. Ele lembra que além da orientação técnica, a empresa prestou toda assistência para elaboração de documentos, licença ambiental e análise da água, por exigência da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), o que, segundo ele, foi fundamental, pois na comunidade nenhum dos membros poderia arcar com os custos da contratação de um engenheiro para produzir tais documentos.
Ele lembra que são muitas as exigências de caráter legal e sanitário que os produtores são obrigados a manter em dia e, além disso, por exigência do Ministério da Pesca é preciso renovar regularmente o registro de criador, o que demanda a elaboração de relatórios específicos, que só são possíveis com a orientação e apoio dos técnicos da Emater.
Mas Zeno Tavares, que é o chefe da família do Sítio Nova Esperança, no Cujubim, pede mais apoio dos órgãos oficiais para o campo no âmbito do município de Porto Velho. Para ele, se os criadores locais recebessem a mesma atenção que recebem os produtores de peixe de Ariquemes, Ouro Preto do Oeste e da Zona da Mata, certamente Porto Velho, por sua aptidão, seria recordista na produção e exportação de pescados nobres, como pirarucu e tambaqui.
O piscicultor citou o exemplo dos tanques-rede, adquiridos e utilizados como escola pela Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri) para capacitar os 22 produtores de sua comunidade, projeto que foi realizado com recursos da compensação da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, e que obteve excelentes resultados enquanto estimulado. Segundo Zeno Tavares, em apenas seis meses os 10 tanques instalados dentro do lago Cujubim produziram 4,6 toneladas de tambaqui.
ENTREPOSTOS FORTALECEM
Contrariando a própria experiência, Zeno Tavares acredita que este deverá ser o ano da piscicultura de Porto Velho, tendo em vista as notícias das iniciativas do governo, que além do incentivo natural para criação de peixe já tem projeto para construção, no interior, de uma rede de apoio para armazenagem de pescado fresco (entrepostos) com alguma possibilidade de o projeto ser estendido para a capital.
Para o produtor, se o governo decidir pela construção de pelo menos um entreposto de armazenagem do pescado no município de Porto Velho, certamente será a mais importante obra do estado para o setor. Segundo ele, a maior dificuldade de quem produz peixe em Porto Velho decorre exatamente da falta de um lugar para estocar ou vender. “Eu sofri muito aqui, carregando toneladas de peixes para vender na feira, para não entregar de graça aos atravessadores”, contou.
Zeno elogiou a iniciativa do governo estadual de incentivar a construção de entrepostos pesqueiros no interior, mas quer que o benefício também se estenda à capital, ressaltando que essa medida vai impulsionar ainda mais a atividade produtiva que, segundo ele, retira do produtor o medo de arriscar, e isso vai ser bom para todos. Para quem produz, que passa a ganhar mais; e para o governo, que melhora sua economia, gerando divisas com a ampliação das exportações de pescado.
Fonte: http://www.rondoniaovivo.com