Até o fim de março, a preocupação dos piscicultores era comercializar a produção em meio à pandemia do coronavírus
A retomada parcial do funcionamento das feiras em abril animou os produtores de peixes em relação às vendas para a Semana Santa. Com isso, importantes regiões produtoras, que antes estavam preocupadas com a comercialização no período, como Norte e Nordeste, devem manter boa parte das vendas mesmo com a pandemia de coronavírus.
“Nós conseguimos reverter esse quadro. Posso dizer que houve uma manutenção de 70% a 80% desses mercados, o que vai permitir a comercialização. Não vai acontecer no nível que esperávamos, porque foi muito em cima da hora. Mas é uma sinalização importante”, afirmou Francisco Medeiros, presidente-executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR).
Segundo o presidente da Peixe BR, essa abertura gradativa das feiras começou há cerca de 10 dias e foi importante para a manutenção das vendas de peixes de cultivos em regiões produtoras, como Belém (PA) e Manaus (AM). “O importante era que as feiras estivessem funcionando na segunda-feira da Semana Santa”, disse.
Para que isso acontecesse, foram necessárias diversas adaptações pelas prefeituras nos locais desses eventos, como ter apenas alimentos à venda, bem como garantir luvas e máscaras aos feirantes, manter 1,5 metros de distância entre as barracas e evitar que comerciantes com mais de 60 anos trabalhassem, por serem parte do grupo de risco.
Demanda menor
Assim como a Páscoa é o período mais importante para quem trabalha com chocolate, a quaresma é o mais importante do ano para os piscicultores. Nessa época, há um incremento nas vendas de peixes que varia entre 30% a 50% no período. Essa alta demanda é ainda mais forte durante a Semana Santa, com o consumo de tilápia e tambaqui.
Nesta época, no ano passado, foram comercializadas 90 mil toneladas de peixes. Mensalmente, fora da data que antecede a Semana Santa, o volume de vendas varia entre 55 mil a 65 mil toneladas. Particularmente neste ano, por conta do impacto da pandemia, a projeção é que as vendas cheguem a 60 mil toneladas na quaresma, queda de 33%.
Mercados consumidores
Importantes mercados compradores de peixes tiveram uma forte redução no consumo, a exemplo de Sul, Sudeste e Centro-Oeste. De acordo com a Peixe BR, isso ocorreu por conta do fechamento de estabelecimentos do segmento food service, como bares, restaurantes e padarias.
Por outro lado, os supermercados dessas regiões registraram um aumento de cerca de 20% no valor do ticket médio gasto com peixes, uma forma de compensar a falta do consumo fora de casa.
Confiança firme
Francisco Medeiros descarta impacto na produção anual de peixes de cultivo, que no ano passado foi de 758 mil toneladas, crescimento de 4,9% sobre 2018. Ele explica que isso só deve acontecer se a quarentena for estendida por mais 60 ou 90 dias.
“O nosso ciclo de produção é longo, por volta de sete meses. O produtor que está cultivando peixe hoje pensa na venda daqui a seis meses. Quem está tendo impacto agora é o produtor que cultivou mais no ano passado, com a expectativa de vender mais nesse período”, afirma.
Segundo o executivo, o foco de trabalho da associação daqui para o resto do ano será evitar o aumento dos custos de produção, como a ração animal, e manter a demanda de peixes após a Semana Santa.
Fonte: https://revistagloborural.globo.com/