Na 2ª parte da reportagem sobre a criação de alevinos da família Colpani, de Mococa, São Paulo, você vai acompanhar a despesca do Alevinos de dourado, os segredos da desova da tilápia e o manejo das larvinhas de pacu.
Correndo nos tubos, girando nos cilindros, bailando nas incubadoras, os ovos de pacu lembram uma nuvem de fumaça.
Com ajuda de um microscópio, algumas horas depois da fecundação já da pra ver os primeiros sinais das larvas. “A partir deste momento o peixe já começa a ter movimento. O processo de evolução agora ocorre numa rapidez incrível”, ensina Thiago Colpani, veterinário e responsável técnico.
Cada larva de pacu está grudada a uma esfera transparente. É o saco vitelino, uma bola de nutrientes que serve de alimento pro peixe nesta fase.
Com apenas cinco dias de vida, as larvas já tem outra aparência – e são em quantidade muito maior: mais de 400 mil larvas.
Nesta fase os produtores controlam a qualidade da água o tempo todo. Saindo das incubadoras, a água passa por uma bateria de equipamentos. Ela é filtrada, recebe injeção de oxigênio e raios ultra-violeta, para combater fungos e bactérias. Depois disso, o líquido volta renovado ao laboratório.
Segundo Dr. Thiago, o laboratório gasta entre 200 e 300 mil litros de água por hora.
Além das bombas e filtros, um aquecedor mantém a temperatura sempre em torno de 25º graus.
Curioso é que muitas das máquinas foram criadas ou adaptadas pelo próprio Martinho Colpani, administrador de empresas e técnico agrícola. Peça de geladeira e radiador de carro convivem com circuitos eletrônicos. “A gente pegou históricos do que se usa no mundo e foi adaptando para a nossa realidade, tentando fazer um made in Brazil”, afirma ele.
Mesmo com tantos cuidados, a mortalidade elevada é comum nesta fase. Seis de cada dez larvas não resistem ao período de incubação.
A tilápia é a única espécie do sítio que desova naturalmente fora do laboratório. A reprodução do peixe ocorre em estufas construídas especialmente pra isto.
A estufa é dividida em várias gaiolas feitas com rede. Cada uma contém cerca de sessenta tilapias – machos e fêmeas. Os peixes se reproduzem à vontade. A vantagem da estufa, explica Martinho Filho, é a possibilidade de se fazer o controle da temperatura. “Fica o ano todo a temperatura da água em torno de 26 a 28 graus celcius. É uma temperatura ideal para a reprodução do peixe.”
Toda semana os funcionários do sítio entram nas gaiolas e examinam cuidadosamente as fêmeas. Em busca de ovos, eles abrem a boca de uma por uma.
Após a coleta, os ovos de tilapia seguem para uma incubadora especial, onde giram o tempo todo para garantir boa renovação de oxigênio. É o mesmo tipo de movimento que ocorreria na boca da mãe.
Com 10 dias de vida, as larvas de tilápia estão prontas para deixar o laboratório. Daí para frente os peixes começam a comer ração.
A criação tem viveiros exclusivos para formação de alevinos. Cada tanque abriga apenas uma espécie de alevino. Para se cálcular a quantidade de ração que deve se dar aos peixes deve-se pesar os peixes semanalmente. A composição da ração dos alevinos varia bastante, a receita muda de acordo com a idade e com a espécie do peixe.
A etapa final da formação dos alevinos ocorre em tanques redondos. Muitos dos peixes já estão prontos para venda. “Aqui é uma espécie de quarentena, os alevinos saem dos viveiros de terra e chegam aqui. Eles vão ficar um período estocados, para que a gente possa observar questões de parasitas, para que seja realizado o transporte”, explica Martinho Colpani.
Os peixes são transportados em sacos com oxigênio e acomodados em caixas de papelão. A venda de alevinos representa mais da metade da renda da família. .
Para a engorda de peixes, os Colpani arrendam quatro áreas fora do sítio. Cada uma com uma bateria de viveiros. Algumas espécies ficam dentro de gaiolas grandes – chamadas de tanques-rede.
O dourado é um dos destaques da engorda. A espécie tem sido muito usada para comer outros peixes e evitar a superpopulação nos tanques.
Não é fácil cercar o rei do rio. À medida que a rede aperta, os peixes ficam ariscos. Os trabalhadores têm que virar de costas para proteger o rosto.
Já dentro do tanque, Dr. Thiago Colpani escolhe alguns peixes pra venda. E qual que é o cuidado que tem que ter pra pegar o dourado? “Tem que tomar cuidado com a boca, com os dentes. Uma mordida do dourado é mordida para, no mínimo, 20 pontos.”
Enquanto o pessoal descarrega os alevinos, Martinho Colpani confere o pedido com um dos proprietários, Paulo Resende. “Tenho dourado, pacu, piá, matrinxã, cat-fish, tilápia, que é o carro chefe do pesqueiro”, enumera.
Paulo é um dos 2.300 compradores de peixe da família Colapani – a maior parte das vendas de alevinos ocorre no Sul e Sudeste do Brasil.
Ao longo dos anos, a maior parte da renda do peixe foi reinvestida na própria criação de alevinos. Além de tanques e equipamentos, os Colpani compraram dois caminhões.
Para encerrar a nossa visita, a família oferece uma peixada, na casa dos pais em Mococa. Dona Nilza prepara tudo com capricho. A mesa pronta tem tilápia frita, à parmeggiana e um belo tambacu assado.
Todo mundo concorda num ponto: apesar da trabalheira, a criação de peixe trouxe mais mais conforto pra família.
Razão pra se emocionar, seu Martinho tem de sobra. Partindo do zero, em menos de duas décadas, os Colpani se tornaram referência na criação de peixe. Uma receita que combina técnica apurada e o trabalho de toda a família uma mistura de simplicidade e conhecimento.
A criação de peixes mostra que tecnologia não é coisa só de grande empresário. Com dedicação e muita competência, os Colpani provam que é perfeitamente possível juntar agronegócio e lucro com agricultura familiar.
Texto Editado, Fonte: http://globoruraltv.globo.com