Yara Couro recebeu aporte de R$ 2 milhões do PPBio para focar no B2B
Ao decidir empreender, Bruna Freitas, 30 anos, buscava propósito. E esse propósito precisava estar relacionado à cidade de Santana (AP), onde nasceu. “Vivemos em uma área de pesca, e os peixes são mal aproveitados. Apenas uma parte vira filé e o resto se torna resíduo”, afirma. De olho nesta lacuna, fundou, em setembro do ano passado, a Yara Couro, startup que utiliza resíduos da indústria pesqueira para criar couro de peixe que pode ser usado em sapatos, bolsas e outros acessórios.
Os primeiros insights do negócio vieram de artesãos da cidade. “Quando eu frequentava feiras de rua, via algumas pessoas vendendo couro de peixe artesanal, mas sem acabamento e boa costura”, afirma ela. Para melhorar o entendimento sobre o produto, foi à Escola de Pesca, instituição de ensino amapaense que realiza estudos sobre o couro, ao lado dos sócios, Stefane Correa, Camila Nascimento e Frank Gonçalves.
“Começamos a compreender o processo e projetar melhorias na qualidade”, afirma Freitas. A empreendedora diz que os testes duraram cerca de três meses. “Queríamos atingir um resultado satisfatório, especialmente em relação a sustentabilidade”. Todos os couros — a Yara usa majoritariamente resíduos de pescada amarela, acará-acú, tilápia e pirarucu — passam por “curtimento”, técnica que transforma a pele animal em couro por meio de tratamento químico. Mas, enquanto o método tradicional usa poluentes como o cromo, a startup utiliza taninos vegetais. Segundo Freitas, os resultados de resistência e coloração são similares. A empresa usa majoritariamente resíduos de pescada amarela, acará-acú, tilápia e pirarucu.
A segunda etapa foi ver como o produto se comportava na prática. Para isso, contraram uma fabricante que desenvolveu a primeira coleção com bolsas, carteiras e chaveiros. “Nossa ideia era ver se as pessoas e outras empresas teriam interesse”, afirma a empreendedora.
As vendas começaram oficialmente em março deste ano. Três meses depois, a Yara Couro recebeu um aporte de R$ 2 milhões do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), coordenado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e executado pelo Instituto de Desenvolvimento da Amazônia (Idesam), que será usado para construir uma fábrica de dois mil metros quadrados e direcionar a produção para o B2B, atendendo empresas que produzem roupas, acessórios e até bancos de carros. Em agosto, outro marco: a startup foi selecionada para o Sinergia, programa de aceleração da Plataforma Jornada Amazônia.
“Estamos focados em aprimorar nosso produto para atingir a indústria e nos posicionar com força para o B2B”, afirma a empreendedora, acrescentando que está em fase de negociação com empresas que podem ser clientes. A expectativa é inaugurar a planta em 2024.
Fonte: https://revistapegn.globo.com/