A World Wide Fund (WWF), organização não governamental internacional que atua na conservação, investigação e recuperação ambiental, selecionou o Brasil e outros quatro países do Cone Sul para iniciar uma campanha de consumo sustentável de pescado que pretende conscientizar compradores e fornecedores sobre a necessidade de diminuir a sobrepesca dos estoques pesqueiros.
No último sábado (07/04), o restaurante Le Manjue, no bairro nobre dos Jardins, em São Paulo, recebeu um almoço para convidados e jornalistas para celebrar o lançamento oficial da campanha no Brasil, enquanto outro evento semelhante acontecia em Valparaíso (Chile). Na ocasião, Ana Carolina Lobo, coordenadora do Programa Mata Atlântica e Marinho do WWF-Brasil, traçou um cenário crítico à falta de dados e de gestão dos estoques pesqueiros no Brasil.
“O cenário de sobrepesca impacta mais de 80% dos nossos estoques de pescado daqui. Por outro lado, a pesca impacta em R$ 5 bilhões no nosso PIB, é muito importante enquanto geração de emprego e renda, mas o governo brasileiro parou de fazer monitoramento estatístico dos estoques pesqueiros em 2011. Vivemos em um País que não tem dados estatísticos pesqueiros e não há monitoramento de como a pesca ocorre”, disse em seu discurso de abertura do evento.
De acordo com o analista de conservação da WWF-Brasil Caio Faro, o interesse dos consumidores por informações e produtos sustentáveis cresceu no Brasil e já chegou ao pescado. “Existe uma demanda de pessoas que querem consumir pescado que não impactam ou que impacta cada vez menos o meio ambiente. Por outro lado, sabemos que é muito difícil encontrar produtos certificados, da pesca não temos nenhum produto brasileiro certificado.”
Faro diz que o lançamento da campanha é o primeiro passo de uma série de ações da entidade com pescadores, compradores e varejistas. A iniciativa vai começar com a pesca artesanal do carapau (Caranx crysus) na Área de Proteção Ambiental do Litoral Norte Paulista (APA Marinha Litoral Norte). A espécie é capturada por pescadores artesanais da região por meio de cercos flutuantes.
A arte de pesca é predominante na região e, segundo o entendimento da ONG, causa menos impacto ambiental e elimina a captura acidental de outros seres vivos no hábitat marinho, como tartarugas. Por este motivo, deve embasar a criação de um Programa de Melhoramento Pesqueiro (FIP ou PROME) específico, com vistas a uma futura certificação.
Faro reconhece que a inexistência de produtos pesqueiros brasileiros certificados é um entrave para a campanha, mas afirma que outros FIPs em andamento, como o da pargo e da lagosta, mostram que o caminho para a sustentabilidade no pescado já começou. “Focamos primeiramente na pesca artesanal porque pode dar resultados mais rápidos e já tem um ponto de comercialização muito próximo do ponto da pesca nas regiões produtoras. Mas temos interesse de falar com a pesca industrial. Não somos contra que se compre panga e polaca, por exemplo, mas que se procure consumir o produto certificado.”
Renato Caleffi, chef do Le Manjue, tornou-se uma espécie de embaixador da iniciativa. “Temos uma filosofia de fornecer produtos saudáveis e orgânicos, com mínimo impacto ambiental e valorização dos produtores. Por este motivo, apoiamos esta campanha de consumo consciente”, disse. O chef gravou um vídeo para a campanha:
Ao saber da iniciativa da WWF-Brasil, Cadu Villaça, oceanógrafo e diretor técnico do Coletivo Nacional da Pesca e Aquicultura (Conepe), demonstrou apoio à campanha. “A iniciativa WWF é muito bem-vinda. Naquilo que pudermos e formos convidados vamos nos comprometer, sempre com uma postura de produção sustentável, de geração de empregos e renda e de desenvolvimento, não puramente conservacionista.”
De acordo com Villaça, a pesca tem papel claro na segurança alimentar e nos princípios de renovação que esta produção sustenta. Ele cita ferramentas com os FIPs como caminho para o setor. “As ferramentas propostas, como FIPs, tem se mostrado eficientes no mundo. Chega um momento que o governo precisa se incorporar ao movimento, criar normativas e alinhamento com prerrogativas indicadas pelos FIPs.”
Villaça é um dos articuladores do FIP da lagosta cearense, projeto coordenado pela ONG Cedepesca. Na última avaliação de resultados, o FIP apurou melhoria nos indicadores que colocam a pescaria na rota de uma certificação de sustentabilidade. ”É uma pescaria muito complexa. Termos levado quase cinco anos para efetivamente ver a ideia ganhar reconhecimento demonstra que ela é verdadeira e fruto de persistência e trabalho”, conta.
Fonte: http://seafoodbrasil.com.br